quarta-feira, 18 de novembro de 2020
"O mais terrível e certamente o mais conhecido símbolo de sacrifício humano nos conflitos armados do século XX é o piloto kamikaze, arremessando-se para a morte a quase mil quilômetros por hora sobre o convés de uma embarcação inimiga. Muitos não atingiram os alvos, e explodiram ou despedaçaram-se no mar. Uma forma alternativa de morte violenta para os kamikazes, ou Tokkotai (Forças Especiais de Ataque), como os japoneses mais usualmente os denominam, era colocar-se num caixão de aço no formato de um charuto e lançar-se de um submarino como um torpedo-humano. (...)
A maioria dos voluntários Tokkotai (sob variados níveis de pressão) era formada por estudantes provenientes dos departamentos de humanidades das melhores universidades. Estudantes de ciências eram considerados menos descartáveis. As cartas revelam que todos leram muito, frequentemente em pelo menos três línguas. Na filosofia alemã, os autores favoritos eram Nietzsche, Hegel, Fichte e Kant. Na literatura francesa: Gide, Romain Rolland, Balzac, Maupassant. Na alemã: Thomas Mann, Schiller, Goethe, Hesse. Muitos refletiam sobre o suicídio de Sócrates e sobre os escritos de Kierkegaard acerca do desespero. Poucos eram cristãos praticantes e um número surpreendentemente tinha uma visão marxista da política e da economia."
BURUMA, Ian & MARGALIT, Avishai. Ocidentalismo - O Ocidente aos olhos de seus inimigos. Tradução de Sérgio Lopes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006, p. 63-64.
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