terça-feira, 18 de maio de 2021
As histórias dos parques nacionais nos Estados Unidos e os movimentos de preservação ambiental na Grã-Bretanha, Austrália e África mostram, claramente, que o amor à beleza é uma motivação mais forte que qualquer interesse científico ou utilitário na preservação do planeta e da paisagem para as futuras gerações e na preservação dos hábitats de outras espécies. A beleza assume papel ainda mais importante na preservação do hábitat das pessoas que vivem na civilização. Parece-me que muitos dos piores casos de degradação ambiental de nossa época advêm da remoção do belo, que é substituído pela utilidade. A depredação dos habitáts humanos em nome da construção de viadutos, grandes estruturas de concreto e vias é sempre conduzida em nome de uma grande utilidade e ao mesmo tempo desqualifica a oposição como coisa de gente com preocupações "estéticas", portanto trata-se de "uma questão de gosto".
Afastar-se da beleza é uma conduta encorajada por duas suposições equivocadas. A primeira é pensar que a beleza é completamente subjetiva, que sobre ela não pode haver debate racional e que seria inútil chegar a um consenso. A segunda diz que o belo, afinal de contas, não importa pois é um valor sem realidade econômica, sem nenhum direito de interferir no crescimento econômico. Essas duas suposições levaram ao que Milan Kundera chamou de "enfeiamento" do mundo: os degradados centros das cidades americanas e a porcaria espalhada em seu entorno; as contaminadas monotowns da antiga União Soviética; as zonas de concreto e de guerra urbana da banlieu parisiense; as paisagens destruídas da Arábia; e os sombrios espaços baldios das Midlands britânicas. É importante, portanto, refutá-los, e deixar claro que não há como desenvolver uma política ambiental convincente sem que na disputa entre beleza e utilidade a beleza prevaleça.
SCRUTON, Roger. Filosofia Verde: Como Pensar Seriamente o Planeta. Tradução de Maurício G. Righi. São Paulo: É Realizações, 2017, Cap. 8.
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