“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

A anexação romana do Egito

domingo, 1 de maio de 2022

 

O Egito era um reino rico, mas o custo de manter os romanos satisfeitos quase levou o estado à falência. Porém, nem mesmo o massivo suborno pago pelos egípcios impediu que os romanos lhes tomassem Chipre, em 58 a.C. Essa ilha tomada pela potência em ascensão no Mediterrâneo foi o último de uma série de reveses para o reino que já havia dominado grande parte do Oriente Médio. Esse era um declínio que Cleópatra VII, da dinastia ptolomaica, estava determinada a reverter.

Cleópatra herdou o trono aos 17 anos, em 51 a.C. Obrigada a se casar com seu irmão, Ptolomeu XIII, ela nunca foi especialmente popular com seus súditos. Quando uma seca e uma fome se bateu sobre o país, as autoridades palacianas planejaram um golpe. Ela, então, precisou deixar o palácio para a sua segurança pessoal.

Em 48 a.C., a República romana foi derrotada em Farsalos, e Júlio César tornou-se o mestre do mundo romano. Ptolomeu, líder do partido derrotado, fugiu para o Egito, onde foi assassinado ainda na barca que o levava para a praia. Quatro dias depois do assassinato, César chegou à terra dos faraós com três mil legionários. Instalou-se no palácio, em Alexandria, para onde Cleópatra furtivamente retornou.

Sentindo-se traído, Ptolomeu XIII tentou fugir para incitar uma rebelião popular, mas foi levado de volta ao trono pelos homens de César. A seguir, foi forçado a uma "reconciliação" com a irmã. Os regentes que, até então, governavam em nome de Ptolomeu, reuniram um exército contra o nome mandatário de facto do Egito. A guerra civil que se seguiu foi difícil para César, mas, de certo modo, foi ainda mais dolorosa para os egípcios: a grande Biblioteca de Alexandria foi incendiada.

Com a vitória romana, Ptolomeu bateu em retirada e acabou afogando-se. Cleópatra, a nova amante de César, uniu-se formalmente com outro de seus irmãos, que assumiu com Ptolomeu XIV. Pouco depois de deixar o Egito, o filho de César com Cleópatra, Cesário, nasceu em junho de 47 a.C. Uma das irmãs da rainha, Arsínoe, por ter apoiado a facção pró-Ptolomeu XIII, foi capturada pelos romanos e levada para o triunfo de César em Roma, no ano 46 a.C.

Em março de 44 a.C., César foi assassinado no Senado. A seguir, Cleópatra assassinou o marido-irmão e passou a governar com consorte de seu filho Cesário. Suas habilidades diplomáticas foram testadas ao máximo na guerra civil que se seguiu à morte do dictator romano. Em 42 a.C., o conflito terminou e formou-se o segundo triunvirato. Marco Antônio escolheu governar o Oriente, onde acabou se apaixonando pela rainha do Egito.

Apesar disso, e de Cleópatra ter engravidado de Antônio, este partiu para ajudar a esposa, Fúlvia, que iniciara uma rebelião contra Otaviano, seu colega triúnviro. A seguir, Antônio enviuvou e se casou com a irmã de Otaviano. No Oriente, as campanhas militares iniciadas por ordem de Antônio iam bem, e ele partiu para lá. Cleópatra foi convidada, no papel de monarca aliada, e em retribuição por seu esforço recebeu terras na Síria, Cilícia e Judeia, territórios que já haviam sido parte dos domínios ptolomaicos. Por sua vez, o ressentido Herodes, o Grande tornou-se secretamente partidário de Otaviano.

A campanha parte de Antônio não foi bem, mas ele tentou recuperar algum crédito ao saquear depois a Armênia. No final de 36 a.C., ele chegou à Síria. No ano seguinte, junto com Cleópatra, retornou ao Egito. Em Alexandria, em seus tronos, foram chamados de encarnações de Dionísio e de Ísis. Em 32 a.C., como se não bastasse o escândalo das "Doações de Alexandria", Antônio se divorciou de Otávia, a irmã de Otaviano, e se casou com Cleópatra. Otaviano, então, declarou guerra à rainha do Egito.

O conflito seria travado na Grécia. Assim que a guerra civil recomeçou em Roma, um dado curioso chamou a atenção: Otaviano, um general indiferente, soube escolher subordinados competentes; Antônio, por sua vez, embora fosse tão experiente na guerra, amargou brigas e divisão no seu comando. O lado de Otaviano, então, cortou o suprimento de água do exército de Antônio, enquanto ele estava acampado perto de um promotório chamado Ácio.

Cleópatra trouxe seus navios para evacuar os homens. Em 2 de setembro de 31 a.C., sob o comando de Agripa, a força naval de Otaviano atacou a marinha egípcia. A luta seguia equilibrada, quando Cleópatra subitamente fraquejou e decidiu zarpar para o mar aberto. Antônio então abandonou o seu exército e a sua frota. A frota lutou até cerca das 16h, quando decidiu se render. Em terra, o exército lutou até que Canídio os abandonou.

A fuga para o Egito foi desastrosa. Otaviano se atrasou, devido a demandas de seu novo império. Porém, finalmente chegou para se apossar do reino que logo seria uma província romana. Marco Antônio se suicidou e, pouco depois, foi seguido por Cleópatra. Cesário, traído pelo seu tutor, foi morto por ordem de Otaviano. Era o fim do Egito ptolomaico.    

Bibliografia consultada: MATYSZAK, Philip. Os inimigos de Roma - de Aníbal a Átila, o Huno. Tradução de Sonia Augusto. Barueri, SP: Manole, 2013, p. 121-134. 

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