terça-feira, 27 de dezembro de 2022
Em 1958, o ditador soviético Nikita Khrushchev fez uma calamitosa visita a Pequim. Na ocasião, houve um rol aparentemente interminável de queixas de parte a parte entre os mandatários das duas maiores potências socialistas do mundo. Mao Zedong, de forma especial, induziu Khrushchev a dar declarações cada vez mais absurdas e humilhantes a fim de, provavelmente, demonstrar aos quadros chineses a inconfiabilidade do líder que presumivelmente desafiara a imagem de Stalin.
Mao também buscou a oportunidade de comunicar a profundidade da conduta opressiva de Moscou anteriormente. Mao se queixou do comportamento condescendente de Stalin durante sua visita a Mosco no inverno de 1949-50:
Mao: [...] Após a vitória de nossa Revolução, Stalin teve dúvidas sobre o caráter dela. Ele acreditava que a China era outra Iugoslávia.
Khrushchev: Sim, ele considerava isso possível.
Mao: Quando estive em Moscou [dezembro de 1949], ele não quis concluir um tratado de amizade conosco e não quis anular o antigo tratado com o Kuomintang. Lembro que [o intérprete soviético Nikolai] Fedorenko e [o emissário de Stalin para a República Popular, Ivan] Kovalev me transmitiram o conselho [de Stalin] de empreender uma viagem pelo país para dar uma olhada. Mas eu disse a eles, tenho apenas três tarefas: comer, dormir e cagar. Não vim a Moscou apenas para dar os parabéns a Stalin por seu aniversário. Então eu disse, se vocês não estão interessados em concluir um tratado de amizade, que seja. Vou cuidar das minhas três tarefas.
Em fevereiro de 1972, era a vez do representante maior do mundo livre, Richard Nixon, visitar a nação asiática. Na visita histórica, Mao frisou sua boa vontade pessoal em relação ao presidente americano. Ele afirmava que preferia lidar com governantes de direita, alegando que eram mais confiáveis. O autor do Grande Salto Adiante e da Campanha Antidireitista fez, então, o comentário espantoso de que "votara" em Nixon, e que ficava "relativamente feliz quando essas pessoas de direita chegam ao poder" (pelo menos no Ocidente). "Gosto de direitistas", assinalou o Grande Timoneiro, Mao Zedong.
Adaptado de KISSINGER, Henry. Sobre a China. Tradução de Cássio de Arantes Leite. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011, p. 175-76 e 260-61.
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