“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

O arquipélago das Molucas - Amboína

sexta-feira, 3 de março de 2023

O arquipélago das Molucas, na atual Indonésia, é composto de três grupos de ilhas. No início do século XVII, as Molucas do Norte abrigavam os reinos independentes de Tidore, Ternate e Bacan. As Molucas Médias abrigavam o reino insular de Amboína. No sul havia as Ilhas Banda, um pequeno arquipélago que ainda não havia sido unificado politicamente. Embora hoje pareçam remotas, na época as Molucas eram centrais para o comércio internacional por serem as únicas produtoras das especiarias cravo-da-índia, mácide e noz-moscada. Dessas, a mácide e a noz-moscada só podiam ser encontradas nas Ilhas Banda. Os habitantes das ilhas produziam e exportavam essas especiarias raras em troca de comida e de bens manufaturados que chegavam de Java, do entreposto de Malaca, na península Malaia, e da Índia, da China e da Arábia.

O primeiro contato que tiveram com os europeus com os portugueses, que capturaram Malaca em 1511. Estrategicamente situada na porção ocidental da península Malaia, a região recebia mercadores de todo o Sudeste Asiático que iam vender suas especiarias a outros mercadores - indianos, chineses e árabes -, que depois as enviavam para o Ocidente. Então, com o domínio de Malaca, os portugueses tentaram sistematicamente conquistar um monopólio do valioso comércio de especiarias. Não conseguiram.

Os adversários eram consideráveis. Desde o século XIV, o enorme desenvolvimento econômico no Sudeste Asiático baseado no comércio de especiarias levou cidades-Estado como Aceh, Banten, Malaca, Macáçar, Pegu e Brunei a se expandirem rápido, produzindo e exportando especiarias junto com outros produtos, como madeiras de lei. A partir do século XVI, a presença dos europeus aumentou e passou a ter muito mais impacto com a chegada dos holandeses, que logo se deram conta de que monopolizar a oferta das valiosas especiarias das Molucas seria muito mais lucrativo do que competir contra outros comerciantes locais e europeus. Em 1600, convenceram o governante de Amboína a assinar um acordo de exclusividade que lhes dava o monopólio sobre o comércio do cravo-da-índia na ilha. Com a fundação da Companhia das Índias Orientais, em 1602, as tentativas dos holandeses de dominar o comércio de especiarias e eliminar seus concorrentes lhes renderam bons frutos, prejudicando imensamente o Sudeste Asiático. Graças ao seu poder militar, a companhia permitiu aos holandeses eliminar qualquer possível obstáculo e garantir que seu tratado com o governante de Amboína fosse respeitado. Em 1605, capturaram um forte importante que estava em mãos portuguesas e, a seguir, removeram à força todos os demais comerciantes. Depois, expandiram sua atuação para as Molucas do Norte.

Em Amboína, os súditos deviam tributos ao governante e eram obrigados a fazer trabalhos forçados. Os holandeses assumiram e intensificaram esses sistemas para obter mais mão de obra e mais cravo-da-índia. Os holandeses determinaram que os moradores de cada casa estavam presos a um pedaço de terra e deviam cultivar um certo número de árvores de cravo-da-índia. As famílias também eram obrigadas a prestar trabalhos forçados.

Adaptado de ACEMOGLU, Daron & ROBINSON, James A. Por que as nações fracassam - as origens do poder, da prosperidade e da pobreza. Tradução de Rogerio W. Galindo e Rosiane C. de Freitas. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2022, p. 272-276. 

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