“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

O arquipélago das Molucas - Banda

domingo, 5 de março de 2023

 

Os turistas, ao visitarem esse paraíso que são as Ilhas Banda, não imaginam que no século XVII esse mesmo lugar foi transformado num cemitério pelos neerlandeses. 

Os holandeses também assumiram o controle das Ilhas Banda, na intenção de monopolizar a mácide e a noz-moscada. As Ilhas Banda, porém, eram organizadas de modo diferente de Amboína. Elas eram compostas de várias pequenas cidades-Estado autônomas, onde não havia hierarquia social nem estrutura política. Esses pequenos Estados, que na verdade não eram mais do que vilarejos, eram administrados por assembleias compostas pelos cidadãos locais. Não havia autoridade central que os holandeses pudessem coagir a assinar um tratado de monopólio e nenhum sistema de tributos que pudessem assumir para pôr as mãos em todo o suprimento de mácide e noz-moscada. De início, isso significou que os holandeses precisaram concorrer com mercadores ingleses, portugueses, indianos e chineses, perdendo para seus concorrentes quando não pagavam preços altos. Os planos iniciais de estabelecer um monopólio de mácide e noz-moscada naufragaram, e o governador holandês da Batávia, Jan Pieterszoon Coen, propôs um plano alternativo. Coen fundou a Batávia, na Ilha de Java, que em 1618 se tornou a nova capital da Companhia Holandesa das Índias Orientais. Em 1621, ele navegou até as Ilhas Banda com uma frota e começou um massacre de quase toda a população das ilhas, provavelmente cerca de 15 mil pessoas. Todos os líderes foram executados, e só algumas pessoas foram deixadas vivas, o suficiente para preservar o conhecimento da produção de mácide e noz-moscada. Depois que o genocídio estava completo, Coen criou a estrutura política e econômica necessária para seu plano: uma sociedade de plantations. As Ilhas foram divididas em 68 domínios, que foram entregues a 68 holandeses, quase todos empregados ou ex-empregados da Companhia Holandesa das Índias Orientais. Esses novos latifundiários aprenderam a produzir especiarias com os poucos habitantes originários sobreviventes e compraram escravizados da Companhia Britânica das Índias Orientais para povoar as ilhas esvaziadas e produzir especiarias, que seriam vendidas a preços fixos para a própria companhia.

As instituições extrativistas criadas pelos holandeses nas Ilhas das Especiarias tiveram os efeitos desejados, mas em Banda isso aconteceu ao custo de 15 mil vidas inocentes e ao estabelecimento de um conjunto de instituições econômicas e políticas que condenariam as ilhas ao subdesenvolvimento. No fim do século XVII, os holandeses haviam reduzido a oferta mundial dessas especiarias em cerca de 60%, e o preço da noz-moscada dobrara.

Os holandeses disseminaram a estratégia aperfeiçoada nas Molucas por toda a região, trazendo consequências profundas para as instituições econômicas e políticas do restante do Sudeste Asiático. A longa expansão comercial de diversos Estados na área, iniciada no século XIV, começou a retroceder. 

ACEMOGLU, Daron & ROBINSON, James A. Por que as nações fracassam - as origens do poder, da prosperidade e da pobreza. Tradução de Rogerio W. Galindo e Rosiane C. de Freitas. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2022, p. 276-278. 

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