quinta-feira, 23 de maio de 2024
Assim, em uma época em que os avanços intelectuais do século XIX estavam empurrando alguns protestantes para o agnosticismo, outros para o fundamentalismo despropositado e outros, ainda, para uma heroica reavaliação de sua teologia, o catolicismo e, acima de tudo, o papismo desenvolveram um novo poder de atração, graças a características que outrora haviam feito com que parecesse repulsivo. Em 1846, Manning acusou o anglicanismo: "a Igreja da Inglaterra parece marcada por um desejo de antiguidade, sistema, plenitude, inteligência, ordem, força, unidade; temos dogmas no papel, um ritual abandonado quase universalmente, nenhuma disciplina e um episcopado, sacerdócio e leigos divididos". A Igreja Romana era o oposto desse quadro lamentável - um monólito triunfalista, intocado, imutável e, dadas as suas premissas, impermeável a desafios. Somente ela, na prática, estava preparada para aceitar com entusiasmo a assunção de de Newman de que o questionamento de tais proposições era ilegítimo, e exercer o poder eclesiástico necessário para impossibilitá-lo. Assim, na planície crepuscular de agnosticismo e crença declinante do século XIX, a Igreja de Roma sobressaía-se como uma fortaleza: uma vez em seu interior, a ponte levadiça podia ser suspensa, e as sólidas muralhas constituiriam uma separação absoluta entre os verdadeiros cristãos e o resto. Em contrapartida, os muros da cidadela protestante estavam desmoronando; na verdade, sendo demolidos rapidamente, já que o inimigo se encontrava em seu seio. As imagens de algo seguro, de um refúgio e do voo para a segurança abundam nos escritos dos conversos - o que nos fornece o indício fundamental da revigoração da Igreja Romana do século XIX e da reafirmação do poder papal.
JOHNSON, Paul. História do Cristianismo. Tradução de Cristiana de Assis Serra. Rio de Janeiro: Imago, 2001, p. 462-463.
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