“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

A Reforma Protestante

sábado, 23 de maio de 2015

No post do último dia 14 (disponível aqui) eu expliquei que existiram pré-condições que tornaram a Reforma Protestante possível no início do séc. XVI. Agora pretendo oferecer alguns apontamentos sobre esse importante episódio da História do Ocidente.

Nos países onde eclodiu a Reforma (principados germânicos, Inglaterra e países escandinavos), a Igreja Católica fazia "campos de caça". Explicando melhor: eram nessas regiões que o papado obtinha o grosso de suas riquezas. Sendo um verdadeiro Estado dentro do Estado e muitas vezes tentando suplantá-lo, a Igreja era mais vista como um patrão explorador. Isso explica que nos países mencionados a Reforma tenha se fundido a um sentimento de patriotismo nacional. 

Antes de prosseguir, é preciso alertar que o poder do papado no início da Idade Moderna não deve ser superestimado. Desde 1515, na França, o rei Francisco I (1494-1547) passou a administrar os bens da Igreja; a Coroa também se encarregou de escolher os bispos, arbitrar as desavenças clericais, enfim, gerenciar a Igreja, que passou a se chamar Galicana. Na Península Ibérica ocorreu o mesmo, devido ao regime do padroado. Assim, passaram a existir igrejas nacionais, ao invés de igrejas ultramontanas.

Há que se diferenciar a Reforma Magisterial da Reforma Radical. A primeira foi assim chamada por ter dependido de magistrados seculares. Resolveu o conflito entre a Igreja e o Estado em benefício deste último. A Reforma Magisterial foi a Reforma de Martinho Lutero (1483-1546), João Calvino (1509-1564), Henrique VIII (1491-1547), entre outros.

Lutero negava a ideia da Devotio Moderna de que o indivíduo teria um papel na salvação através da vida meditativa. Para ele a salvação seria obtida passivamente, através da fé. Desta forma, atacou fortemente a venda de indulgências, penitências e boas obras que o catolicismo pregava como necessários para que o crente obtivesse a salvação. 

Na Inglaterra, os monarcas viviam em permanente conflito com a Igreja Católica. A Reforma foi possível quando o rei Henrique VIII submeteu a Igreja, criando a Igreja Anglicana.

Já a Reforma Radical foi feita pelos anabatistas. Sendo um movimento de raiz popular, os anabatistas defendiam que o príncipe deveria converter os infiéis pela força. Mas, como o príncipe se recusava a fazê-lo, os próprios anabatistas deveriam se incumbir de forçá-los à conversão. 

Os anabatistas foram os primeiros a estabelecer a missa protestante e o batismo exclusivamente de adultos. Possuindo um tom milenarista, acreditavam que Deus ainda falava com os seus homens. Em 1524, Thomas Müntzer uniu o anabatismo ao movimento camponês, promovendo as guerras camponesas. Os revolucionários defendiam uma sociedade igualitária - foram, portanto, possíveis precursores dos comunistas. Seu extermínio ocorreu com o aval de Lutero.

Os melquioritas (do líder Melquior Hoffman) foram uma das tendências do anabatismo, bem como os amish, huteritas e os menonitas. Estes últimos eram anarquistas (uma vez que criam que qualquer governo seria fruto de pecado) e contrários ao uso da força. Generalizaram o conceito de pecado e defendiam que o fiel verdadeiro não se preocuparia com as coisas deste mundo. Os menonitas representaram uma tendência passiva dentro da Reforma Radical.    

2 comentários:

Ana Souza disse...

Professor, a igreja anglicana tem esse nome por algum motivo especial ou homenagem a alguém, ou colocaram esse nome só por colocar, tem algum significado?

Raphael disse...

É uma referência aos anglos-saxões, ancestrais do povo britânico. Portanto, a Igreja Anglicana é a igreja nacional dos ingleses.

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