“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

«A Era dos Impérios», de Hobsbawm

sexta-feira, 2 de outubro de 2015


Originalmente escrito em 1987, e publicado no ano seguinte pela editora carioca Paz e Terra, A Era dos Impérios deve ser leitura obrigatória para aqueles que queiram compreender as raízes do mundo atual. Assim como os demais livros de Eric J. Hobsbawm, é bastante lido e conhecido nos meios acadêmicos brasileiros. Sem proceder propriamente a um fichamento ou uma resenha, apresento algumas notas do livro que, ao meu ver, dão o "tom" do seu conteúdo. 

O historiador britânico examina a criação dos vastos impérios europeus e o caminho que seguiram até o seu colapso na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Ele mostra como, por exemplo, em 1880 "a ferrovia e a navegação a vapor haviam reduzido as viagens intercontinentais ou transcontinentais a uma questão de semanas, em vez de meses - salvo na maior parte do território da África, da Ásia continental e de partes do interior da América do Sul - e em breve as tornariam uma questão de dias (...)" (cap. 1). Neste mesmo capítulo, Hobsbawm declara que nos anos 1880 a Europa era, de longe, a "peça mais importante da economia mundial" Assim, o século XIX foi o século mais "europeu" da História. Graças às locomotivas e às redes de linhas telegráficas, a tecnologia moderna não só era inegável e triunfante, mas também "extremamente visível".

A seguir, é apresentada uma relação dos avanços da segunda metade dos anos 1870: vários tipos de turbinas e motores de combustão interna, o telefone, o gramofone e a lâmpada incandescente. Nos anos 1880 o automóvel tornou-se operacional e, a partir dos anos 1890, foram produzidos ou pesquisados o cinematógrafo, a aeronáutica e a radiotelegrafia. Nesse contexto de rápidas transformações, a Igreja Católica apresentou-se como uma firme opositora de tudo o que o século XIX representou. Para o pensamento conservador católico, a "velha sabedoria e os velhos hábitos eram melhores". Como explica no cap. 11, a grande maioria manteve a sua fé, mas a combinação de democratização e secularização que se verificou nesses tempos fez da esquerda política e ideológica a beneficiária natural do processo.

Além de fornecer os dados políticos e econômicos dos cerca de quarenta anos compreendidos entre 1975 e 1914, Hobsbawm analisa as transformações (e revoluções) ocorridas nas artes, nas ciências e no universo feminino. No epílogo do livro, ele nos apresenta uma síntese fantástica do que significou essas décadas para a História:


Nunca antes ou depois os homens e mulheres práticos nutriram expectativas tão elevadas, tão utópicas em relação à vida no planeta: paz universal, cultura universal por meio de um único idioma mundial, ciência que não só tentasse responder, mas que de fato respondesse às perguntas mais fundamentais sobre o universo, a emancipação da mulher de toda sua história passada, a emancipação de toda a humanidade através da emancipação dos trabalhadores, a liberação sexual, uma sociedade de abundância, um mundo onde cada um colaborasse segundo suas capacidades e recebesse conforme sua necessidade. Não se tratava apenas de sonhos de revolucionários. A utopia através do progresso estava, sob aspectos fundamentais, embutida no século.

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