“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

As Mulheres Políticas do Séc. XVI

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Retrato de Margarida de Navarra (c. 1527), de Jean Clouet (1475-1540).

"O século XVI estava cheio de mulheres que exercitaram os seus talentos como os homens, para todos poderem ver e julgar. O Vaticano sob os papas do Renascimento estava povoado de mulheres políticas - sobrinhas ou cunhadas do poder reinante e outras menos intimamente relacionadas, que lutavam entre si pelo exercício desse poder. Uma ou duas delas permaneceram durante anos como grandes detentoras do poder de decisão. O seu mundo de intriga palaciana fez vir ao de cima capacidades que, noutro cenário, teriam governado com êxito uma nação moderna. 

Esse cenário existiu e foi bem ocupado. Isabel de Castela, como adiante se verá, foi muitas vezes a melhor metade Fernando na governação da Espanha, num período crítico da construção da nação. Mais tarde, no mesmo século, Filipe II tinha a Espanha sob o seu controlo, mas o império era excessivamente extenso, pelo que necessitou de um representante para governar os Países Baixos insubmissos. Nomeou como governadora a irmã ilegítima, Margarida de Parma. Durante os nove anos em que ocupou o cargo, marcados por um clima de rebelião eminente, os habilidosos esforços de Margarida para obter a reconciliação adiaram a insurreição. A irmã de Filipe II só não ficou célebre porque estava do 'lado errado' e porque o seu sucessor, o duque de Alva, usou meios de repressão cruéis. O moderno sentimento liberal dá vivas aos Holandeses e condena todos os que tentaram evitar a sua emancipação. Mas as causas e os resultados de uma luta não dão a medida da habilidade evidenciada por ambos os lados. Um julgamento justo deveria seguir o modelo que fez do General Robert E. Lee um herói, apesar de ter perdido uma guerra travada para manter a escravatura."     

BARZUN, Jacques. Da Alvorada à Decadência - 500 anos de vida cultural no Ocidente (de 1500 à actualidade). Tradução de António Pires Cabral e Rui Pires Cabral. Lisboa: Gradiva, 2003, p. 101-102. 

Nota: Barzun menciona outras mulheres estadistas do século XVI - primeiramente, Luísa de Sabóia, mãe de Francisco (futuro rei da França). Luísa foi a negociadora do Tratado de Cambraia, que pôs termo à guerra da França com a Espanha em 1529 e que ficou conhecido como a paz das damas, porque a outra parte negociadora foi Margarida de Áustria, tia de Carlos V. Elizabeth I, rainha da Inglaterra, deve ser lembrada "como um dos espíritos mais ilustrados do seu tempo". Catarina de Médici, como rainha-mãe da França, "orientou políticas que mantiveram a prerrogativa real e a integridade do reino". Outra "pérola" foi Margarida de Navarra, irmã de Francisco I. Na sua corte do sudoeste da França, Margarida manteve uma roda de escritores e pensadores de todas as confissões (até mesmo, durante algum tempo, Calvino).

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