“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Reflexões Sobre a Conquista do México

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Hernán Cortés (de roupa escura, assentado) aparece ao lado de Malinche, uma nativa que lhe serviu de intérprete durante a conquista do México.

"Para interpretar a conquista do México como tendo se devido essencialmente a disputas internas entre nações méxicas, três proposições precisariam ser verdadeiras. Em primeiro lugar, as tribos mesoamericanas poderiam ter destruído Tenochtitlán algum tempo antes sozinhas, sem ajuda espanhola. No entanto, relatos contemporâneos provam que as tribos vizinhas haviam fracassado em tentativas de derrubar os méxicas antes da chegada dos espanhóis, e depois haviam sido ineficazes na luta contra os astecas sem apoio europeu. Em segundo lugar, depois da destruição da Cidade do México, os índios mexicanos poderiam ter se virado contra os espanhóis, renovado seus ataques aos europeus como haviam feito durante a chegada de Cortés, e depois aniquilado completamente a presença castelhana, garantindo sua autonomia perpétua tanto dos opressores astecas quanto dos espanhóis. O contrário ocorreu: a destruição de Tenochtitlán marcou o fim de toda autonomia méxica. Nenhuma tribo indígena poderia ter derrotado os astecas antes da chegada dos espanhóis, tampouco nenhum índio poderia ter derrubado os espanhóis depois da conquista. Em terceiro lugar, os povos mesoamericanos, beligerantes e divididos, foram cooptados por uma força européia unida e coesa, sugerindo que as lutas internas, e não a superioridade militar espanhola, era o que impedia uma vitória indígena. No entanto, os europeus tinham quase tantas dissidências em suas fileiras quanto os nativos do México. O próprio Cortés escapou por pouco de ser preso em Cuba e foi alvo de diversos complôs de assassinato. (...) 

Em suma, um Cortés disposto ao combate, sem sanção oficial e vítima de um status praticamente de renegado entre seus superiores caribenhos, transformou um mundo indígena preexistente de tensão e batalha constantes em uma guerra inteiramente nova de aniquilação total contra o povo mais poderoso da história do México - algo impossível sem uma tecnologia superior, cavalos e tática. Ao final dessa campanha, em poucos anos, ele colocou todo o México sob a autoridade espanhola, uma condição que, com exceção de revoltas ocasionais, caracterizaria a história mexicana da queda de Tenochtitlán em 1521 até a guerra de independência no século XIX." 

HANSON, Victor Davis. Por que o Ocidente Venceu - Massacre e cultura, da Grécia antiga ao Vietnã. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 300-301.  

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