“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

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Villa Borghese, Roma, Itália.

O "Simplismo" de Ignaz Semmelweis

segunda-feira, 18 de março de 2024

Ignaz Semmelweis (1818-1865)

O uso indiscriminado do termo "simplista" acabou se tornando uma argumentação amplamente usada toda vez que não se dispõe de provas concretas, uma forma de desqualificar visões opostas sem a necessidade de confrontá-las com evidências ou análises. 

Portanto, com o objetivo de caracterizar uma conclusão de simplista, praticamente qualquer resposta pode ser manipulada. Isso é feito ao se expandir indefinidamente a questão, englobando dimensões que fogem ao controle explicativo em questão para, então, insinuar-se inadequação, acusando o argumento de simplista. Por exemplo, na década de 1840, o médico obstetra austríaco Ignaz Semmelweis apresentou estatísticas que mostravam uma diferença substancial, verificada nos índices de mortalidade entre mulheres nas clínicas de maternidade em Viena, quando eram examinadas por médicos que haviam lavado suas mãos antes de examiná-las e por médicos que não o tinham feito. À época, as salas de cirurgia eram tão sujas como os cirurgiões que nelas trabalhavam. Assim, o Dr. Ignaz procurava impor a todos os outros a obrigatoriedade de lavar as mãos antes de examinarem as pacientes. Porém, sua sugestão foi rejeitada essencialmente por ser simplista, fazendo uso de um tipo de argumento que está conosco ainda hoje. Ele foi desafiado a explicar por que lavar a mão de alguém afetaria a mortalidade das mulheres em trabalho de parto e, uma vez que isso aconteceu antes de a teoria bacteriana ser desenvolvida e aceita, ele não tinha como provar. Em poucas palavras, a questão fora expandida a ponto de não poder ser respondida naquele estágio do conhecimento, o que fazia qualquer resposta parecer "simplista". Todavia, a questão real não era se aquele médico, o qual se baseava em dados estatísticos, podia responder à questão mais ampla, mas se a evidência mais pontual que ele indicava sobre a questão era válida e se poderia, portanto, salvar vidas baseando-se apenas em fatos empíricos. O perigo em se cometer a falácia post hoc poderia ter sido facilmente evitado ao se continuar a colher dados a fim de verificar se o procedimento de lavagem das mãos, feito por outros médicos, reduzia os índices de mortalidade das gestantes.

É provável que o Dr. Ignaz tenha sido "cancelado" pelos seus colegas médicos por uma combinação de fatores: seu caráter orgulhoso e agressivo e, sobretudo, sua juventude - ele contava apenas 30 anos, quando pôs em xeque todo o sistema de saúde austríaco. Ignaz Semmelweis foi então internado num manicômio, com base em argumentos fraudulentos. Lá ele morreu em 1865, aos 47 anos, sozinho e deprimido.     

Bibliografia consultada:

LÓPEZ, Alberto. "Ignaz Semmelweis, o médico que descobriu como evitar contágios apenas lavando as mãos". El País, 20 de março de 2020, disponível aqui.

SOWELL, Thomas. Os Intelectuais e a Sociedade. Tradução de Maurício G. Righi. São Paulo: É Realizações, 2011, p. 134-135.

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