“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Doutrinação durante a Guerra Fria

quarta-feira, 24 de abril de 2024

"As faculdades devem contratar professores vermelhos?" Capa da revista American Legion, 1951. A partir da Guerra Fria, a educação tornou-se um dos espaços privilegiados da guerra cultural promovida pelo marxismo cultural.

A noção de "corrida armamentista", como caracterização negativa no uso da dissuasão militar, foi apenas uma dentre muitas ideias das décadas de 1920 e de 1930 que foram ressuscitadas durante o período da Guerra Fria. Da mesma forma que os sindicatos dos professores franceses tornaram as escolas francesas centros de doutrinação para promoção das agendas pacifistas durante as décadas de 1920 e de 1930, enfatizando os horrores da guerra, também nos Estados Unidos, durante o período da Guerra Fria, as salas de aula norte-americanas se tornaram lugares para doutrinação sobre os horrores da guerra. Dramatizações dos bombardeios nucleares às cidades japonesas foram, por exemplo, encenadas:

Expostas aos detalhes mais medonhos, essas crianças, em geral de classe média alta, eram obrigadas a observar mulheres e crianças japonesas sendo incineradas pela tempestade de fogo acionada pelo bombardeio atômico. Os jovens colavam na cadeira. Soluços podiam ser ouvidos. O ânimo geral provocado na classe pode ser resumido e bem expresso por uma jovem emotiva que perguntou: "Por que nós fizemos isso?". A professora respondeu dizendo: "Fizemos uma vez, podemos fazer novamente. Se essas armas de destruição serão ou não usadas, depende de vocês." E assim se iniciava uma unidade de estudo sobre as armas nucleares.

Levar as crianças às lágrimas nas salas de aula, como parte do processo de doutrinação, já havia feito parte também do modus operandi na França entre as duas Guerras Mundiais:

Por exemplo, numa escola para rapazes em Amiens, os professores perguntavam aos meninos cujos pais haviam sido mortos em combate para que falassem sobre o assunto para a classe. "Mais do que uma lágrima era derramada", relatou o diretor. De forma parecida, uma professora de outra escola primária em Amiens notou que em sua escola uma aluna, em cada seis, perdera o pai entre 1914 e 1918: "A lembrança dos mortos era encenada com a mais comovente reverência", a professora relatou, "e tanto professoras quanto alunas eram unidas pela emoção criada". Outra professora, agora de uma escola para garotas em Pont de Metz, relatou o silêncio solene que, gerado durante a lembrança dos mortos, "era quebrado com os soluços de muitas crianças cujos pais morreram na guerra.

É importante observar que nesse caso, assim como em outros contextos, o erro fatal dos professores esteve em conduzir situações que estavam além de sua competência, uma vez que os professores não têm nenhuma qualificação profissional que os habilite compreender os perigos de manipular as emoções das crianças, nem quaisquer qualificações especiais para compreender as complicações políticas no âmbito internacional, ou quais fatores aumentam e quais diminuem a probabilidade das guerras, muito menos que fatores tendem a levar ao colapso e à derrota, como aconteceu com a França em 1940.     

SOWELL, Thomas. Os Intelectuais e a Sociedade. Tradução de Maurício G. Righi. São Paulo: É Realizações, 2011, p. 411-412.

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