domingo, 28 de abril de 2024
Europa, c. 1560. Clique no mapa.
Em meados do século XVI, portanto, havia três variedades de religião estatal no Ocidente: o catolicismo papal, o cristianismo estatal (luteranismo) e a teocracia calvinista. As três, ao menos em teoria, eram universalistas em seus objetivos: anteviam um futuro e até certo ponto trabalhavam por ele, em que suas doutrinas e instituições seriam impostas a toda a cristandade. Cada qual apresentava um vínculo orgânico com o Estado em que existia. Todas eram religiões compulsórias, reivindicando o monopólio do ministério cristão onde quer que tivessem poder. Lutero, como heresiarca, havia começado pedindo tolerância, insistindo na (esta era uma nova expressão) "liberdade de consciência". Não queria "triunfar pelo fogo, mas pelos escritos". Entre suas proposições condenadas por Roma, figurava: "queimar hereges é contrário à vontade do espírito". O poder secular deveria "ocupar-se de seus próprios negócios, deixando que cada qual acredite no que puder e optar, não se valendo de qualquer força com ninguém a esse respeito". Chegou mesmo, a princípio, a instar que os príncipes fossem tolerantes com os milenaristas, anabatistas e outros do tipo de Munster, "por ser necessário que haja seitas e a palavra de Deus seja alistada e se engaje nas batalhas". Essa moderação inicial não sobreviveu à crescente dependência de Lutero em relação aos príncipes. Com sua doutrina estabelecida como religião estatal, todas as demais formas de cristianismo tiveram de ser eliminadas, ao menos em sua expressão aberta.
JOHNSON, Paul. História do Cristianismo. Tradução de Cristiana de Assis Serra. Rio de Janeiro: Imago, 2001, p. 347.
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