“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

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Villa Borghese, Roma, Itália.

Soldados da Roma Antiga

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Abaixo, os 22 soldados de chumbo que ajudam a contar a História do exército romano entre o início do século III a.C. e meados do século V d.C. Nessa pequena mostra da mais poderosa máquina de guerra da Antiguidade, friso uma das maiores de suas virtudes: sua capacidade de adaptação.

Uma visão geral a respeito do exército romano pode ser obtida a partir do livro The Complete Roman Army.

1. Hastati (201 a.C.)

A infantaria das antigas legiões era dividida em três linhas, de acordo com critérios de renda e de idade. A 1ª dessas linhas era composta pelos hastati, os soldados mais jovens (provavelmente no final da adolescência e início dos vinte anos).


Destaque para os vários equipamentos da infantaria. Ilustração de Carlos Fernández del Castillo.

Os hastati usavam o pilum, o gládio, um peitoral de bronze, um capacete e um escudo oval ou semi-cilíndrico. No front, eram os primeiros a enfrentar os inimigos.

2. Centurião (200 a.C. - 104 a.C.)

Já nas incipientes legiões da Roma republicana os centuriões formavam a casta de profissionais da milícia. Seu elmo possuía uma crista transversal e sua armadura era formada por anéis entrelaçados. 
Centurião cesariano, por R. Oltean.

A espada era o gladius hispaniensis e o escudo, ovalado, próprio dos tempos da República, era feito de lâminas de madeira forradas e tinha no centro um protetor para a mão.

3. Centurião em batalha

Os centuriões comandavam uma centúria e destacavam-se pelo mérito, agressividade e capacidade de liderança. Eram autênticos profissionais e bem remunerados, como atesta a história do centurião cujo servo fora curado por Jesus (ele havia financiado a construção da sinagoga de Cafarnaum; cf. Lucas 7:1-5). Consequentemente, sua armadura e seu escudo eram de melhor qualidade do que os usados pelos legionários. Ao contrário destes, nunca portavam a lança (ou pilum).

A imagem capta um centurião do Alto Império, em combate.

4. Centurião com a cepa

Esperava-se que os centuriões mantivessem a férrea disciplina das legiões. Eles deviam estar atentos não só à ordem unida e coesão das fileiras, mas também à disposição dos homens no acampamento, ao desempenho de diversos trabalhos, etc.

A insígnia dos centuriões era a cepa, que era usada como bastão de comando.

5. A "mula" de Mário

É um legionário da época republicana, em marcha. Equipava-se com cota de malha, escudo oval e curvado, espada hispânica, lança arrojadiça, túnica curta e sandálias militares.

Caio Mário (c. 157 a.C. - 86 a.C.) reduziu ao mínimo a bagagem que os legionários deveriam transportar em suas marchas. Assim, foi combatido um dos problemas que mais estorvavam a eficiência das legiões: a lentidão nos deslocamentos. Com menos bagagem e menos animais de carga, os legionários passaram a marchar com muito peso, razão pela qual foram alcunhados de "as mulas de Mário".

6. Legionário em combate (fins do séc. I a.C.)

Legionário do início da Era Imperial. Em seu armamento era característico o capacete de bronze terminado em ponta. Carregava escudo oval de transição, espada ibérica aprimorada, saiote de tiras e cotas de malha com proteção interna de couro. 
Representação de um legionário do principado de Augusto, por Johnny Shumate.


O equipamento desse militar mostra a evolução de um exército já profissionalizado.

7. Soldado em marcha (início do séc. II)

Um legionário transportando os seus utensílios e parte daqueles de vários companheiros durante as Guerras Dácias (101-106). Assim atestam os dois reforços, em forma de cruz, colocados nos capacetes durante essas campanhas. Como norma, carregava-se comida para três dias, embora existam relatos que sugerem que podia-se transportar rações para quinze dias, um peso nada desprezível.


Uma expedição romana na costa da Grã-Bretanha, por Peter Dennis.

8. General romano

O general era o emissário imperial que comandava uma legião. Nomeado diretamente pelo imperador, o cargo era sempre ocupado por um aristocrata que exercia a função por certo período, como um degrau em sua carreira política. 

Os cavalos dos generais costumavam ser presas de guerra. Os preferidos eram os de raça árabe ou hispânica, muito apreciados por seus donos. O general da imagem usa como almofada o couro de um leão, mais um símbolo de poder e prestígio.

9. Tribuno pretoriano

 De classe social elevada, o tribuno era um oficial de alta graduação que comandava uma das coortes que compunham a guarda pretoriana, a escolta pessoal do imperador. Tanto sua indumentária como seus equipamentos foram inspirados nos equivalentes usados na Grécia clássica.

Como os demais oficiais, o tribuno geralmente usava a espada de cavalaria (spatha), visto que em combate quase sempre lutava a cavalo. Os oficiais também se distinguiam por uma longa capa ou paludamentum, que era presa sobre o peito com um broche.

10. Pretoriano

O soldado pretoriano fazia guarda nos acessos às dependências do imperador. Usava uma armadura de gala de origem helênica, sempre que atuava no palácio ou prestava honras especiais. Estava armado com lança e espada e carregava um escudo oval, reminiscência do período republicano.


Guarda pretoriano, por Johnny Shumate.

Foram frequentes entre os pretorianos as armaduras e capacetes adornados com metais preciosos, esculturas e figuras, dando um caráter tão impressionante quanto teatral a seus portadores, que demonstravam assim sua posição e fortuna.

11. Legionário da infantaria alto-imperial (sécs. I-III)

No Alto Império (27 a.C. - 235) os romanos experimentaram uma era de paz e prosperidade. O responsável por assegurar a ordem nos vastos domínios romanos era o legionário, um dos 4800 soldados de infantaria que compunham uma legião. 


Uma das muitas possíveis variações de equipamentos dos legionários na primeira metade do século II, por Angel Garcia Pinto.

Equipava-se com espada curta de fio duplo com ponta, lança arrojadiça (pilum), escudo curvo retangular, couraça de placas metálicas sobrepostas, adaga, capacete de ferro ou bronze e sandálias militares.


Legionário da época da dinastia dos Severos (fins do séc. II - início do séc. III). Arte de Pablo Outeiral para a Desperta Ferro.

Nesse período a legião era uma formação homogênea, fundamental na romanização das províncias recém-formadas. Com um único tipo de soldado que combatia em perfeita ordem, as legiões levaram o imperador Trajano a dominar cerca de 6,5 milhões de quilômetros quadrados.

12. Soldado em batalha

O legionário é captado na imagem no momento em que inicia o combate, lançando o pilum. Tal projétil chocava-se com grande impacto nos escudos dos inimigos, inutilizando-os e ferindo ou matando os menos afortunados. 


Legionários lançando o pilum (sécs. I-II), de Peter Connolly.

Após isso, e se aproveitando da confusão gerada, os legionários atacavam com o gladius em punho. Com o gladius o objetivo era golpear de ponta, para provocar feridas mais letais do que se fosse golpeado de gume. 

13. Legionário da VI Legião

Legionário da Legio VI Victrix. Esta legião esteve sob o comando de Octaviano em Filipos (42 a.C.). Posteriormente, esteve aquartelada na Britânia por quase trezentos anos, garantindo a Pax Romana na província mais setentrional do império. A Legio VI foi a última legião a abandonar a província, no início do séc. V, e provavelmente foi destruída nas batalhas que culminaram com o saque de Roma por Alarico, em 410.

Pensa-se que foi Artório, um homem da cavalaria desta legião, que inspirou as lendas envolvendo o rei Artur.

14. Soldado em acampamento

A figura reproduz um legionário realizando tarefas de limpeza e manutenção de seu equipamento. É interessante observar o desmonte das diferentes partes da loriga e como encaixam-se umas às outras. À direita estão os outros elementos da panóplia.


Recruta treinando num acampamento.

15. Signifer


Os signiferi eram os porta-estandartes de uma centúria. Seu nome derivava do signum, o estandarte que levavam. Costumavam usar loriga de malha ou escamas, armadura coberta com pele de animal e escudo pequeno redondo. Apesar de carregarem arma, não combatiam, já que sua missão era a de estabelecer a posição de sua unidade, indicar o caminho durante as marchas e supervisionar os depósitos de dinheiro dos soldados, nos acampamentos. Todas essas funções demandavam grande responsabilidade e confiança.


Draconarius, porta-estandarte da cavalaria romana.


Dentre os demais tipos de estandartes, destaco ainda a águia, carregada pelo aquilifer e que após Mário se tornou o emblema supremo de todas as legiões; e a imago, um emblema muito peculiar e de grande importância política, uma vez que ligava a legião diretamente à pessoa do imperador.


Imaginifer, por P. Connolly.

Como se vê, este estandarte portava um busto em bronze do imperador. A águia e a imago estavam a cargo da Primeira Coorte.

16. Arqueiro hamita (séc. II)

As forças auxiliares (auxilia) eram recrutadas dentre os não-cidadãos, e incluíam até bárbaros (muitos dos quais ambicionavam viver no Império Romano e adquirir a cidadania após a baixa). Os auxilia que combateram junto com o exército de Roma normalmente equipavam-se com armas diferentes e combatiam de forma distinta dos legionários. Este é o caso dos arqueiros auxiliares, ajuda sempre grata para os legionários, uma vez que a maré de combatentes era bastante desorganizada.

As forças auxiliares adquiriram maior importância nas guerras do Baixo Império (235-476). No período final da civilização romana a estratégia militar romana foi alterada: o sólido sistema de defesa fronteiriça foi substituído por um exército central móvel (comitatense), auxiliado por tropas fronteiriças (limitanei). Estas não mais teriam a obrigação de conter o inimigo na zona fronteiriça; apenas iriam desgastá-lo para que os comitatenses os derrotassem numa batalha campal, no interior do império. O sistema de defesa em profundidade, como veio a ser conhecido, apostava mais na mobilidade, quesito em que os auxiliares tinham clara vantagem sobre a infantaria pesada. 

Muitos bárbaros foram recrutados e incorporados no exército romano como auxilia, cujo contingente cresceu à medida que aumentavam as baixas de legionários. Com a multiplicação de campanhas ao longo do limes, e devastadoras guerras civis sendo travadas no coração do império, renovar o exército como novos legionários era mais custoso e demorado (além que, com o acúmulo de derrotas e o esfriamento do patriotismo, muitos cidadãos evitavam a todo custo a carreira militar - alguns chegavam até a amputarem os polegares!). Essas circunstâncias difíceis levaram os imperadores e generais dos sécs. III-V, quase incessantemente imersos em conflitos, a dependerem cada vez mais de auxilia. Muitos deles eram bárbaros que na véspera lutavam contra Roma.  

17. Infantaria auxiliar 

As legiões eram acompanhadas por unidades de menor importância, cuja função era assistir àquelas, mas que também podiam atuar independentemente. Esses corpos auxiliares contavam com 500 ou 1000 homens que se chamavam, respectivamente, "quinquegenárias" e "miliárias".

Escrevendo no final do séc. IV, Vegécio apontou como uma das causas da decadência das legiões o fato de muitos preferirem servir nas tropas auxiliares, "onde têm de trabalhar menos e as recompensas são melhores" (Epitoma rei militaris, II.3). 

18. Cavalaria romana

As tropas da cavalaria romana eram compostas, em sua imensa maioria, de unidades auxiliares que eram abastecidas com ginetes procedentes de lugares onde a arte equestre fazia parte da maneira de guerrear autóctone. Este era o caso dos povos gauleses e hispânicos.


Cavalaria auxiliar alto-imperial, por R. Embleton

Durante as batalhas, a cavalaria protegia os flancos da infantaria. "A secção posterior da infantaria deve ser defendida pela cavalaria pesada, enquanto que a cavalaria ligeira e rápida se encarrega de atacar e romper as alas do inimigo" (Vegécio, Epitoma, III.16).

Ilustração de Peter Connolly.

19. Escorpião

O escorpião (scorpio) era uma pequena catapulta, facilmente transportável. Esse peça de artilharia podia ser colocada rapidamente em acessos fortificados ou ser levada para o campo de batalha. Lançava pedras e pequenos projéteis que produziam um impacto mortífero mesmo a 200 m de distância. Cada legião contava com 59 escorpiões, distribuídos para cada centúria.

Durante as Guerras Dácias, alguns carros, conduzidos por mulas, incorporavam esses escorpiões (eram os cheiroballistra), e permitia uma grande mobilidade a essas peças de artilharia.

20. Infantaria ligeira tardia

A partir do séc. IV, o exército romano tornou-se bem multicultural. Os hábitos das novas tropas procedentes dos povos bárbaros foram se impondo, e aos poucos a infantaria deixou cair em desuso o antigo costume de se usar o tempo todo a armadura tradicional. Armas e formações se alteraram.


 Exército romano do Baixo Império. Ilustração de Pawel Kaczmarczyk.

Ainda assim, na Antiguidade Tardia as forças romanas eram as mais bem preparadas para a batalha campal. Segundo Victor Davis Hanson, as legiões afinal foram suplantadas "não por causa de fraquezas de organização, atrasos tecnológicos ou mesmo problemas de comando e disciplina, mas sim por causa da escassez de cidadãos livres dispostos a lutar por sua própria liberdade e pelos valores de sua civilização" (Por que o Ocidente venceu. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 227).

Saiba mais: Ejército tardo imperial romano (artigo), Late Roman Infantryman - 236-565 AD (livro).

21. Oficial romano (séc. V)

A partir do séc. IV, o magister militum ("mestre dos soldados") era a patente do comandante-em-chefe do exército romano. Esse generalíssimo passou mesmo a decidir os rumos das guerras de Roma, uma vez que os imperadores acabaram por se distanciar quase completamente dos assuntos militares a partir do final do século em questão. Vários desses oficiais (como Estilicão, Ricimero, Odoacro), muitos dos quais de sangue bárbaro, passaram a ser verdadeiras "eminências pardas" frente a imperadores fracos.

22. General a cavalo (séc. V)

No séc. V, quando o Império Romano do Ocidente estava a se desintegrar, bons generais ainda mostravam o seu valor. Tal foi o caso de Flávio Aécio (396-454), cognominado "o último os romanos", por sua bravura em combate.

Figura influente durante o governo de Valentiniano III, em 451 Aécio liderou uma coalizão de romanos, visigodos e francos que derrotou os hunos de Átila na batalha dos Campos Catalaúnicos (ou batalha de Châlons). 

7 comentários:

Lobo disse...

Muito informativo, obrigado por partilhar.

Unknown disse...

bom

Unknown disse...

bom

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bom

Quetezalcoatl Dias disse...

Adorei seu blog. Sou apaixonado pela história militar! Faço coleção desse boneco também.

Quetezalcoatl Dias disse...

Adorei seu blog. Sou apaixonado pela história militar! Faço coleção desse boneco também.

pmc disse...

Olá saudações amigo esses soldadinhos como colecionar...onde você encontrou....

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