domingo, 21 de agosto de 2016
A cada dia eu confirmo, na prática, a máxima de Roberto Campos, para o qual o capitalismo nunca existiu no Brasil. Infelizmente, não há horizonte de mudança à vista.
Eu poderia relatar inúmeras experiências terríveis que tive com os agentes do mercado no Brasil. Limitar-me-ei a uma para não cansar o leitor.
No início do mês, encontrei o livro Tenho Uma Ideia numa prateleira do Supermercado Epa, localizado à Rua Eugênio Netto, em Santa Lúcia, Vitória. Como só encontrei um exemplar, procurei uma funcionária e disse que gostaria de falar com a gerência, uma vez que precisava de outros exemplares (pretendia presentear alguns alunos). Fiz o pedido sem grandes esperanças, uma vez que já havia tido experiências terríveis em outro supermercado dessa rede, e não tive o "privilégio" de ter uma "audiência" com o inacessível gerente. De qualquer modo, pensei eu, os clientes de Santa Lúcia são de "outro nível", e talvez isso sensibilizaria o(a) gerente.
Nada feito. A gerente disse à funcionária que eu só poderia conversar com o subgerente, e ainda assim teria que esperar por mais de uma hora. Como teria uma consulta médica por ali mais tarde, e teria que esperar de qualquer modo, aceitei o "chá de banco". Quando os seres de carne e osso nos relegam à solidão, um livro nunca nos abandona. E desta vez a minha companhia seria o brilhante livro do Roger von Oech.
Após mais de uma hora, o subgerente finalmente fez sua aparição triunfal. Em nenhum momento demonstrou preocupação com a minha longa espera. Sem qualquer deferência para com seu cliente, atendeu-me em pé, à entrada da loja. Expliquei-lhe que queria comprar mais exemplares do livro que havia acabado de adquirir. Além disso, proporia à rede educacional onde trabalho que fizesse o mesmo. O subgerente anotou os meus dados e disse que me atenderia em breve. Dias depois, como não havia recebido qualquer resposta, retornei ao supermercado. Disse que precisava falar mais uma vez com o subgerente, mas que então não dispunha de tanto tempo como da outra vez. Iria fazer compras e o ilustre "sub" que me procurasse algures. De fato, encontrei-o depois, por acaso, entre as prateleiras. Num esforço de persuasão homérico, deixei claro que atuo numa vasta rede educacional; considerando que o livro é bom e estava à venda por um preço módico, talvez fizéssemos uma grande compra. Disse que, pela lógica, clientes e vendedores têm o mesmo interesse em fechar um negócio. Afirmar o óbvio talvez o despertaria para a realidade do mercado. Debalde. Apesar de novas promessas de entrar em contato comigo o mais rápido possível, até hoje não recebi qualquer contato. Não estão interessados em vender.
Esse é o Brasil, um país onde o comprador precisa implorar que se lhe vendam. Em terras tupiniquins, o vendedor acredita estar num patamar superior aos reles mortais - uma espécie de Olimpo do Mercado - e só concede alguma "graça" após receber os salamaleques de praxe. Muito mais que pré-capitalista, o Brasil é anticapitalista.
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