“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

A Época Baixa Egípcia

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Psametek I (séc. VII a.C.), XXVI dinastia. Tumba de Pabasa, em Tebas.

A XXVI dinastia, e especificamente o reinado de Psametek I, marcaram o início da Época Baixa Egípcia (664-332 a.C.). Como Psametek I era um membro da casa real líbia de Sais, o período da XXVI dinastia também ficou conhecido como período saíta. Ele chegou ao poder durante a curta fase de domínio assírio no Delta. Após a evacuação das tropas assírias, ele reinou sobre o Baixo Egito em conjunto com outros príncipes locais, mas com o auxílio de mercenários gregos e cários tornou-se o governante único, e chegou mesmo a estender o seu poder ao Alto Egito. Necau, seu filho e herdeiro, prosseguiu com sua política e quis ir mais longe, conduzindo uma campanha que atingiu o rio Eufrates (por um momento fez recordar a fase expansionista do Império Novo ). Contudo, os tempos eram outros, e os adversários eram mais poderosos: em 605 a.C. o exército egípcio foi derrotado por Nabucodonosor, rei da Babilônia, em Karkemich (Carquemis, entre a Turquia e a Síria). 

O sucessor, o efêmero Psametek II, teria visitado a região da Palestina. Ele enviou contra a Núbia um exército composto por egípcios e por mercenários gregos e de outras origens, para atacar o rei de Napata, penetrando na Alta Núbia até à quarta catarata, e no seu regresso os mercenários gregos, cários e judeus deixaram vestígios da sua passagem em Abu Simbel. 

Em 525 a.C., alguns meses após a morte do reinado de mais de quarenta anos de Amásis, o exército persa, liderado por Cambises, conquistou sem dificuldades as fortalezas fronteiriças do Delta Oriental. Na sequência, entrou em Mênfis e destronou o seu filho Psametek III. Encerrava-se a XXVI dinastia, que bem procurou dinamizar o surto nacionalista e de arcaização surgido durante a XXV dinastia. Essa política de afirmação autóctone marcou sobretudo a arte. 

A XXVII dinastia, embora fosse de origem estrangeira, foi reconhecida por Maneton na sua lista, composta por soberanos da dinastia persa dos Aquemênidas. Estes reformaram a administração do Egito, codificaram leis, apoiaram a construção de templos e promoveram obras públicas, destacando-se a abertura de um canal para ligar o Mar Vermelho ao Mediterrâneo, projeto esse que já havia despertado o interesse de Necau e que só no século XIX se concretizou na abertura do Canal de Suez. 

Como uma satrapia do Império Persa, o Egito atravessou então as vicissitudes da época de confronto com a Grécia, recebendo desta ajuda para sustentar revoltas contra os ocupantes. Uma dessas revoltas eclodiu em 486 a.C., quando os príncipes egípcios e líbios tentaram conquistar Mênfis a partir do Delta Ocidental, mas Xerxes I, sucessor de Dario I, esmagou a tentativa. No reinado de Artaxerxes I, filho de Xerxes, o Egito revoltou-se de novo, e a Pérsia perdeu temporariamente o controle sobre o Delta. Ainda que Artaxerxes I tivesse algum sucesso na recuperação, a zona de Mareotis, onde mais tarde seria construída a cidade de Alexandria, permaneceu sob o domínio líbio. Nos reinados de Dario II e Artaxerxes II a situação continuou instável, até que Amirteus, fundador e único rei da XVIII dinastia, liderou uma revolta que expulsou os persas. A seguir, Neferités I, oriundo do Delta, deu início à XXIX dinastia. 

Hakor, que reinou reinou pouco tempo após Neferités I, empreendeu uma nova guerra contra os persas. Após o curto reinado de Neferités II, que acabou por ser deposto, o rei de Kuch ocupou parte do Alto Egito. A XXX dinastia começou em 373 a.C., quando Nectanebo I expulsou o exército aquemênida e deu início a inúmeros projetos de construção, continuados mais tarde, sob o domínio ptolemaico. Foi sucedido por seu filho Teos (Djedhor), que conduziu uma expedição tão ruinosa contra a Síria que o Egito se revoltou, levando ao trono o último faraó, Nectanebo II (Nakhthorheb). Ao longo do seu reinado de quase vinte anos, empenhou-se em atividades de construção e de restauro, mas os persas regressaram ao Egito em 343 a.C. e Artaxerxes III transformou-se de novo o Egito numa satrapia persa. Os pesados tributos e o saque das riquezas do país explicam o porquê de Alexandre, o Grande ter sido recebido pelos egípcios como libertador, em 332 a.C. A partir daí, o Egito só voltaria a ter um verdadeiro líder autóctone em 1952, quando Nasser se tornou presidente do país.   

Bibliografia consultada: ARAÚJO, Luís Manuel de. O Egito Faraônico - uma civilização com três mil anos. Revisão de Raul Henriques. Lisboa: Arranha-céus, 2015, p. 103-107.

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