“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Egito e Núbia

sábado, 7 de abril de 2018

Escravos núbios, Grande Templo de Abul-Simbel (séc. XIII a.C.), Egito. Na iconografia egípcia, os núbios eram representados com a pele mais escura do que a dos egípcios.

À época do Egito faraônico, a Núbia era a região que separava esse país da África subsaariana. Atualmente, o antigo território núbio encontra-se dividido entre o Egito e o Sudão. As relações entre o Egito e a Núbia começaram muito cedo e foram intensas. Já no Império Antigo (c. 2660 a.C. - 2180 a.C.) foram promovidas na Núbia várias expedições comerciais ou punitivas sob o comando de governadores de Elefantina. Assim, podemos resumir as transações entre o Egito e a Núbia nos seguintes termos:

"Da Núbia o país das Duas Terras [o Egito] obtinha metais, a começar pelo ouro, boas madeiras, como o ébano, pedras semipreciosas, marfim, peles de leopardo, penas e ovos de avestruz e diversos animais exóticos, como as girafas e os macacos, que eram trocados por produtos egípcios de que os núbios muito careciam, tendo estes, com o tempo, adotado usos e costumes egípcios e, a certa altura, a religião, e ainda, para as classes mais elevadas, a língua e a escrita." ARAÚJO, Luís Manuel de. O Egito Faraônico - uma civilização com três mil anos. Revisão de Raul Henriques. Lisboa: Arranha-céus, 2015, p. 33.

Além desses vários produtos, contingentes militares núbios eram requisitados pelo exército egípcio, no qual prestaram bons serviços quando foram arrolados como tropas auxiliares. Além disso, os núbios também atuaram como força de polícia para manter a ordem internamente. Nada disso evitou que, ao final do Império Antigo, o Egito fosse mergulhado numa crise de governabilidade que caracterizou o Primeiro Período Intermediário (c. 2180 a.C. - 2040 a.C.).  

No Império Médio (c. 2040 a.C. - 1765 a.C.), os faraós orientaram uma política de ocupação do território, o que implicou a construção de fortalezas e vários templos (forma habitual de impor a presença egípcia). Sobre as construções religiosas, o destaque vai para os grandes templos rupestres de Abu Simbel feitos para Ramsés II (reinou entre 1279 a.C. e 1213 a.C.) e Nefertari (viveu entre 1254 a.C. e 1290 a.C.). Para fins de ocupação e exploração, a Núbia foi dividida em Baixa Núbia (Uauat) e Alta Núbia (Kuch). Após o Império Médio, houve o Segundo Período Intermediário (c. 1765 a.C. - 1550 a.C.). 

No Império Novo (c. 1550 a.C. - 1070 a.C.), as fortalezas egípcias na Núbia passaram a ter uma função mais simbólica do que defensiva, mantendo, todavia, a sua importância estratégica como polos comerciais. 

Embora seja inquestionável que o poder do Egito sobre a Núbia tenha sido preponderante, o inverso também aconteceu. Por exemplo, no Terceiro Período Intermediário (c. 1070 - 664 a.C.), o rei núbio Kashta (770 a.C. - 750 a.C.) fundou a 25ª dinastia egípcia (770 a.C. - 657 a.C.). Taharka (690 a.C. - 664 a.C.), o terceiro faraó etíope, foi mencionado na Bíblia (Isaías 37:9). Apesar da origem núbia, esses reis eram perfeitamente egipcianizados e invadiram o Egito para combater os reis das dinastias líbias que então governavam o país dos faraós. É sintomático que tomaram essa iniciativa em nome do deus Amon e de Maet com a intenção de lá repor a ordem, a maet

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