“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

#15Fatos Templos e Sacerdotes Egípcios

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Pátio de Ramsés II no Templo de Luxor.

1. Os templos egípcios eram animados por muitos sacerdotes (hemu-netjer) e outros servidores do deus - escribas, guardas, capatazes, artesãos ligados à produção de alfaias litúrgicas e de objetos funerários, especialistas na preparação de bebidas e alimentos destinados ao deus, cantoras (chemait), dançarinas (khebait) e músicas (hesit ou ihit). 

2. As mulheres que atuavam no templo normalmente eram esposas dos sacerdotes. Um importante núcleo de servidoras divinas integrava o harém (kheneret) de deuses como Amon e Min. No entanto, embora se integrassem a essas instituições, nunca existiu prostituição sagrada no antigo Egito. 

Tanto essas mulheres como os sacerdotes, após cumprirem o seu mês de serviço no templo, regressavam às suas atividades normais fora do espaço sagrado. As funções sacerdotais eram cumpridas, portanto, de forma cíclica e rotativa. 

3. Os sacerdotes egípcios não eram líderes espirituais da população ou devotos evangelizadores: eram "servos do deus", serviam no templo e estavam integrados à comunidade em que viviam. Assim, normalmente desempenhavam outras atividades além do serviço no templo, e pouquíssimos viviam em reclusão conventual. 

4. Um templo egípcio não permitia o acesso a qualquer pessoa. Apenas os membros do clero ou personagens de alguma importância social lá podiam entrar. O templo, um espaço reservado, era a casa do deus (hut-netjer). 

5. O primeiro momento do culto diário no templo se dava ao alvorecer. No templo de Amon, o sumo sacerdote clamava perante a estátua divina: 

"Tu, que despertas tranquilo, desperta em paz! Desperta Amon-Rá, senhor do trono das Duas Terras, desperta em paz!" 

Ao meio dia e ao entardecer ocorriam os outros momentos do culto. Ao crepúsculo, então, o clérigo oficiante fechava as portas do santuário e a estátua divina adormecia, para ser despertada no alvorecer seguinte. 

6. No caso da clerezia amoniana e noutras de peso considerável, o sacerdote principal e líder do corpo de servidores divinos assegurava a celebração do culto em nome do faraó e superintendia a administração dos bens do templo. 

7. Caso se ausentasse, o sacerdote principal transferia as suas atividades dirigentes para o segundo sacerdote. Nessas ocasiões, este último desempenhava sobretudo funções de caráter administrativo, que incluíam a gestão dos campos, do gado, das oficinas e dos armazéns. Por sua vez, era assessorado pelos terceiro e quarto sacerdotes, e mesmo outros membros do clero. 

8. No baixo clero, integravam-se os sacerdotes "puros" ou uebu (plural de ueb), que cuidavam das alfaias litúrgicas e dos objetos sagrados, além de manter limpos os templos e os objetos de culto (inclusive a barca sagrada processional e a estátua do deus, que era diariamente lavada, alimentada, vestida e recebia incenso).

9. Também existiam os sacerdotes leitores (kheriu-hebet), que ordenavam as cerimônias segundo o ritual e recitavam em alta voz os hinos sagrados durante o culto, lendo textos. Acreditava-se que possuíam poderes mágicos pelo conhecimento das fórmulas contidas no rituais. 

10. Existiam outras funções sacerdotais: os que ocupavam o cargo de imi-seté se encarregavam do transporte de objetos dentro do templo; os horólogos calculavam as horas a que determinadas cerimônias deviam acontecer; os astrônomos previam os dias fastos ou nefastos para a realização de cultos; os sacerdotes funerários ocupavam-se da destacada tarefa de providenciar o culto aos mortos (e, dentre eles, o sacerdote ut cuidava das tarefas de mumificação e de embalsamamento). Existiam ainda sacerdotes músicos e cantores que, em geral, eram cegos. 

11. Não era necessário ter preparação especial ou uma vocação de tipo evangelizador para exercer uma função sacerdotal. No entanto, o domínio dos vários tipos de escrita - hieroglífica, hierática (desde a Época Arcaica) e a demótica (na Época Baixa)  - era indispensável.

12. Existiam escolas ligadas aos templos, uma base indispensável à formação letrada dos futuros sacerdotes. Fora isso, também contavam a ambiência familiar e até a tradição profissional - conhecem-se genealogias sacerdotais. 

13. Há casos de sacerdotes que saíram dos templos a fim de exercer as mais diversas funções como, por exemplo, o comando de expedições militares ou outras para extrair a pedra destinada a obras arquitetônicas ou para o fabrico de estátuas. 

14. Alguns corpos sacerdotais tinham em comum a iniciação feita no templo. Primeiro o iniciado fazia um percurso ritual e esotérico que ia desde o grande portão do pilone de entrada até ao santuário recôndito do espaço divino. Ele então obtinha certos conhecimentos que o colocavam acima de toda a população. Mas, era em seu próprio templo interior, onde se completavam e se harmonizavam o seu coração físico (hati) e seu coração moral (ib), que o sacerdote granjeava a sabedoria que o elevava acima dos outros. 

15. No Egito faraônico, o clero não gozou de uma popularidade uniforme ao longo dos séculos. No Império Antigo, os sacerdotes ainda não usufruíam de um status social elevado. Sua importância perante a sociedade só foi crescendo no período do Império Médio, e só no Império Novo adquiriu uma expressão de grande destaque.      

Bibliografia consultada: ARAÚJO, Luís Manuel de. O Egito Faraônico - uma civilização com três mil anos. Revisão de Raul Henriques. Lisboa: Arranha-céus, 2015, p. 153-160. 

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