“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Um Mosaico Bizantino

domingo, 3 de junho de 2018

O Milagre dos Pães e dos Peixes, c. 520 d.C. Mosaico da Basílica de Santo Apolinário, o Novo, Ravena. 

O mosaico é a arte de elaborar padrões e imagens através da organização de fragmentos coloridos de vidro, mármore e outros materiais adequados, fixando-os a uma base de cimento ou argamassa. Seu primeiro desenvolvimento extensivo deu-se em Roma, na decoração de pavimentos. Trata-se de técnica muito apropriada ao adorno de paredes e abóbadas, e foi muito empregada nas igrejas cristãs da Itália e do Império Bizantino durante toda a Idade Média. 

Analisemos, por exemplo, o mosaico acima, que pertence a uma basílica de Ravena. Por volta do ano 500, Ravena era uma grande cidade portuária e a capital da costa leste da Itália. O Milagre dos Pães e dos Peixes ilustra a história do Evangelho em que Cristo alimentou cinco mil pessoas com cinco pães e dois peixes. Um artista helenístico teria retratado uma imensa multidão, numa cena alegre e espetacular; esse artista, no entanto, optou por um método bem diferente, embora devesse estar muito familiarizado com a arte grega. Ele preferiu compor um mosaico, laboriosamente reunido, de cubos de pedra ou vidro que produzem profundidade, cores cheias, e dão ao interior da igreja deles revestida um aspecto de solene esplendor. Note como o artista soube envolver perfeitamente um manto em torno do corpo, de modo que as principais articulações permanecessem visíveis por baixo das pregas. Ele misturou pedras de diferentes tons no seu mosaico para produzir as cores da carne ou da rocha. Assinalou as sombras no chão e não teve dificuldade alguma em representar o escorço. Se o quadro nos parece um tanto primitivo, isso ocorreu porque o artista deliberadamente quis fazê-lo simples. 

O modo como a história é contada mostra ao espectador que algo milagroso e sagrado está a ocorrer. O fundo é composto de fragmentos de vidro dourado, e nenhuma cena natural ou realista é representada sobre esse fundo, de ouro. A figura imóvel e serena do Cristo ocupa o centro do quadro. Não é o nosso conhecido Cristo barbudo, mas o jovem pálido e de longa cabeleira que viveu na imaginação dos primeiros cristãos. Veste um manto púrpura e estende seus braços num gesto de benção para ambos os lados, onde se encontram dois apóstolos. Estes lhe oferecem os pães e os peixes para que o milagre se realize. A cena prece uma cerimônia solene, e testemunha o poder inabalável de Cristo, consubstanciado na Igreja. Isso explica, ou ajuda a explicar, o modo como Jesus olha fixamente para o espectador: é a este que ELE irá alimentar.    

Como decoração de exteriores, o mosaico figura por vezes na fachada de igrejas medievais e de alguns edifícios modernos. Mais raramente, o mosaico é usado para compor imagens portáteis ou como incrustação em peças de mobiliário e outros objetos, como na arte asteca do México.

Bibliografia consultada: 
CHILVERS, Ian. Dicionário Oxford de Arte. Tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Martins Fontes, 1996, p. 364.
GOMBRICH, E. H. A História da Arte. Tradução de Álvaro Cabral. 16ª edição. Rio de Janeiro: LTC, s/d, p. 135-136.

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