“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.)

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Marco Túlio Cícero 
Arpino, 106 a.C. - Fórmia, 43 a.C. 

Nascido num dia 3 de janeiro, tal como hoje, era filho de um cavaleiro. Desde menino, brilhou por seus dotes naturais, sua decantada agudeza e sua inteligência nos estudos. Embora não desprezasse nenhum ramo do saber, dedicou-se com maior ardor à poesia. Após sua morte, contudo, sua poesia caiu em completo abandono e descrédito. Sua oratório, no entanto, permanece insuperável até hoje. 

Concluído os estudos da infância, recebeu lições de Fílon, o Acadêmico. Militou, por algum tempo, sob as ordens de Sila, na guerra dos marsos. Depois, notando que a república se precipitava numa luta de facções e daí numa ditadura absoluta, voltou-se para uma vida de serenidade e meditação, no convívio de eruditos gregos. Cícero deixou-nos muitas obras, dentre elas, A Carta do Bom Administrador Público

Cícero era magro e, por problemas estomacais, fazia apenas refeições leves. Sua voz, porém, era cheia e forte, sem embargo, seca e sem modulação; sua eloquência violenta e emocionada, por isso sempre impelida para tons elevados, causava apreensões por sua saúde. 

Ambicioso por natureza e estimulado pelo pai e por amigos, Cícero dedicou-se à advocacia. Nessa carreira ele subiu gradualmente, até ser um dos maiores juristas romanos. Em relação à sua vida conjugal, Plutarco nos diz que era dominado pela esposa, Terência, "mulher de temperamento exaltado" (Cícero, 29). 

Nomeado questor por ocasião de uma escassez de trigo, coube-lhe por sorte a Sicília, onde inicialmente causou mal-estar, mas depois passou a ser muito querido pela população. Ingressando com entusiasmo na política, habituou-se a memorizar nomes e outros detalhes da vida de seus concidadãos. Mesmo com o sucesso, o seu patrimônio era modesto - uma bela herdade em Arpino, sua cidade natal, e duas fazendas. 

Tornou-se pretor após uma disputa acirrada. Graças ao apoio conjunto dos partidos aristocrático e popular, foi alçado ao posto de cônsul, em 63 a.C. Seu colega no consulado era Caio Antônio. Catilina, filho de um senador, foi derrotado na disputa e, com a incitação de veteranos de Sila, passou a conspirar, mas foi novamente derrotado na disputa seguinte para o consulado. Assim, seus homens reuniram-se na Etrúria, formando companhias para uma guerra civil. Suas atividades foram prontamente denunciadas, e Cícero pronunciou suas Catilinárias contra os conspiradores. Abandonado pela maior parte de seus asseclas, Catilina foi morto em combate. A Cícero foram então votados as mais altas e inéditas honrarias, o que incluiu o título de "Pai da Pátria". Era o auge do seu poder em Roma. 

Cícero usava e abusava de motejos contra seus rivais na política romana (cf. o post Cícero, o gozador). Isso fez com que ele se tornasse odioso para uma grande parte da aristocracia. Segundo Plutarco, Cícero ofendia as pessoas "indiscriminadamente por amor do riso", o que granjeou-lhe muita antipatia (Cícero, 27). 

Quando se formou o primeiro triunvirato (Pompeu, Crasso e Júlio César), Cícero inicialmente se aproximou de César, uma vez que Crasso o combatia frontalmente. Depois, no entanto, se afastou do conquistador das Gálias e procurou retomar sua carreira política em Roma, sendo atraído pelo tribuno Clódio, que veio a enganá-lo, a persegui-lo e, finalmente, a expulsá-lo da Itália. Pompeu, no entanto, passou a defender a repatriação de Cícero. Ao ser reabilitado, tornou-se um dos sacerdotes áugures, em lugar de Crasso, depois que este morreu na Batalha de Carras (53 a.C.). Na sequência, governou a Cilícia, pacificando-a e mantendo a Capadócia amiga do rei Ariobarzanes. Quando regressou a Roma, a situação já se encaminhava para uma guerra civil. 

Cícero optou pelo lado de Pompeu na guerra civil, o que lhe valeu muitas recriminações por parte de Catão. Na Batalha de Farsalos (48 a.C.), que Cícero não participou por estar doente, César obteve uma vitória esmagadora. Pompeu fugiu, sendo assassinado no Egito. Cícero, por sua vez, fugiu para a Itália, onde veio a se encontrar com César, que o perdoou e o tratou com honra. A seguir, Cícero abandonou a vida pública, passando a viver em Túsculo e dedicando-se ao ensino e à Filosofia. Divorciou-se de Terência e contraiu novas núpcias, com uma donzela riquíssima. 

Cícero não participou da conspiração de Bruto e Cássio contra César, mas defendeu a anistia para os traidores após o assassinato do dictator. Não foi atendido e, logo a seguir, deu-se a rápida ascensão de Marco Antônio. Como a hostilidade se estabeleceu entre os dois, Cícero se aproximou do jovem Otávio, a quem César deixara em testamento a fortuna e a herança de seu nome. Ocorreu que, "uma vez crescida sua autoridade e assumido o consulado, o moço [Otávio] mandou Cícero às urtigas, conciliou a amizade de Antônio e Lépido fazendo causa comum e com eles repartiu a autoridade, como um bem privado qualquer" (Cícero, 46). O segundo triunvirato preparou então a lista daqueles que deveriam ser proscritos (mortos e seus bens confiscados). Cícero acabou incluído, e o relato dramático da decisão dos triúnviros pode ser lida aqui

A cabeça e as mãos de Cícero foram decepadas e expostas no fórum. Isso foi uma vingança post mortem perpetrada por Marco Antônio, alvo das Filípicas de Cícero.

Adaptado de PLUTARCO. Cícero. In: Vidas. Apresentação, seleção e tradução direta do grego por Jaime Bruna. São Paulo: Cultrix, 1963, p. 200-235.     

2 comentários:

Júlia Peterle disse...

Quanto aprendizado eu adquiri! Muito obrigada!

Raphael disse...

Por nada, caríssima. É sempre uma honra contar com a sua visita. Volte sempre!

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