“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

#15Fatos A China entre 506-221 a.C.

segunda-feira, 4 de março de 2019

Qin Shihuang, rei do estado de Qin entre 247-221 a.C. e imperador da China unificada entre 221-210 a.C. Ilustração de c. 1850.

1. Lutas fratricidas transformaram a configuração política da China entre 771 e 506 a.C. Em 506 a.C., um anel extremo formado por sete grandes estados circundava um grupo central de estados pequenos.  Um desses estados, Ch'in, era culturalmente atrasado, assim como os Chou, antes do século XI a.C.  

2. Todas as sete grandes potências periféricas estavam sob ameaça umas das outras. Isso deu aos governos de cada uma delas um forte incentivo para serem militarmente eficientes e, portanto, também eficientes administrativa e economicamente. A chave da eficiência era a autocracia, mas os governantes dos estados de Ch'i e Chin se deparavam com uma estrutura aristocrática tradicional que havia se fortalecido ao longo do tempo. 
  
3. Em 506 a.C., o estado ex-bárbaro de Ch'u foi atacado e devastado por Wu. Em seguida, Wu impôs sua suserania a Yüeh, mas falhou a atacar Ch'i. Assim, Ch'u se restabeleceu em 488-481 a.C. Em 473 a.C., Wu foi conquistado e anexado por Yüeh.   

4. Além de repelir o ataque de Wu, Ch'i também sobreviveu a uma luta interna entre a nobreza aristocrática e a Coroa. A Coroa saiu vitoriosa. Por outro lado, entre 497-490 a.C., uma guerra civil entre facções rivais da nobreza local enfraqueceu a Coroa em Chin.    

5. Numa segunda guerra civil (455-453 a.C.), uma das quatro casas nobres em competição foi aniquilada. As outras três dividiram de facto o estado Chin entre si. Wei, Han e Chao, os três estados-sucessores de Chin, foram reconhecidos de jure em 403 a.C. A fraqueza desses estados somou-se à complexidade da divisão dos territórios, de modo que o beneficiário final da divisão de Chin foi o vizinho a leste desses estados-sucessores, Ch'in.    

6. Após a divisão de Chin, o Príncipe Wen de Wei (446-397 a.C.) atraiu para sua administração homens capazes, de origem social humilde. Essa foi sua forma de compensar as pequenas dimensões do território de seu estado, sua escassa população e seus parcos recursos. O consequente aumento da eficiência militar de Wei levou o Príncipe Wen, em 419 a.C., a tentar a hegemonia. No entanto, Wei foi detido, de forma inconclusiva, em 419-370 a.C., e, de forma decisiva, em 354-340 a.C. Quem se beneficiou com o fracasso de Wei foi seu vizinho ocidental, Ch'in.     

7. No estado Ch'in, durante os reinados do Príncipe Hien (384-361 a.C.) e de seu filho e sucessor, o Príncipe Hiao (361-338 a.C.), houve a mais completa das reorganizações do período. O Príncipe Hiao foi auxiliado por Shang Yang de 356 a.C. até a morte do monarca, em 338 a.C. Em Ch'in, Shang Yang exterminou a estrutura de sociedade baseada em status hereditário; abriu as carreiras civil e militar ao talento; incrementou a agricultura, tornando a terra um bem negociável (propriedade privada).   

8. O reinado do Príncipe Hiao e o trabalho de Shang Yang foram contemporâneos do reinado de Filipe II na Macedônia (359-336 a.C.). Ambos os estados buscaram se fortalecer através da militarização dos camponeses. As relações de Ch'in e da Macedônia com o resto da sociedade a que pertenciam respectivamente eram semelhantes, tanto em termos geográficos quanto sociais. 

9. Ch'in só unificou o Mundo Chinês entre 230 e 221 a.C. Ao contrário da unificação da Grécia pela Macedônia, obra temporária até que Roma consumou o projeto de unidade no século II a.C., a unificação da China pelo estado Ch'in foi conclusiva.       

10. No Mundo Chinês dos séculos V-IV a.C., as radicais modificações administrativas foram acompanhadas de modificações econômicas, sociais e tecnológicas, militares e civis. O efeito cumulativo de todas essas modificações simultâneas foi a dissolução da estrutura tradicional chinesa. Esta foi destruída pela série de guerras que começou em 333 a.C. e terminou em 221 a.C.  

11. A principal modificação econômica foi que a terra tornou-se comerciável. Consequentemente, a produção agrícola aumentou, embora o abismo entre ricos e pobres também. Além disso, surgiu um proletariado não possuidor de terras. Abriu-se carreiras administrativas e militares a profissionais, com base única no talento. 

12. Nessa época também surgiu uma nova classe de educadores, os quais ofereciam um treinamento vocacional a aspirantes a empregos públicos. Confúcio tornou-se um bem-sucedido educador, depois de fracassar como administrador. Outra classe que surgiu foi a dos mercadores, profissionais que sobreviveram e prosperaram apesar da desaprovação do governo. 

13. Entre as principais inovações tecnológicas civis contavam-se a abertura de canais e a emissão de cunhagem metálica. No século IV a.C., fora introduzido na China o arado puxado por bois e o bronze foi substituído pelo ferro como material para implementos agrícolas, ferramentas e armas.   

14. A unificação política da China em 221 a.C. foi imposta pela força militar, mas provou ser durável. Anteriormente, a obra do primeiro unificador dessa nação havia sido desfeita várias vezes, ao longo de 22 séculos.  
  
15. A unificação política da China em 221 a.C. foi viável porque porque sua unificação cultural voluntária já era de fato consumado antes de o próprio estado Ch'in iniciar sua carreira de conquista militar. É por isso que a façanha de Ch'in sobreviveu à rápida extinção do próprio estado de Ch'in.   
  
Bibliografia consultada: TOYNBEE, Arnold. A Humanidade e a Mãe-Terra - Uma História Narrativa do Mundo. Tradução de Helena Maria C. M. Pereira e Alzira S. da Rocha. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987, p. 269-282.

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