“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

#15Fatos A Mesopotâmia

segunda-feira, 11 de março de 2019

Mosaico encontrado nos túmulos reais de Ur, feito de lápis-lazúli.

1. Nos últimos 10 mil anos, o clima e a vegetação do Oriente Médio foram bastante parecidos com os atuais. É verdade que, a partir de então, a intervenção humana, a abusiva exploração dos pastos, a desflorestação e a modificação dos cursos naturais de água modificaram crescentemente o meio. A disponibilidade permanente de água (principalmente através dos rios Tigre e Eufrates) criou habitats especialmente favoráveis para os seres humanos dos primeiros tempos.  

2. O mais antigo povoado da Mesopotâmia (atual Iraque) data da primeira metade do VII milênio a.C. e é contemporâneo de Çatal Hüyük. Os povos dessa época cultivavam trigo, cevada, lentilhas e ervilhas; criavam vacas, ovelhas, cabras, porcos e cães. Nas extensas planícies do norte da Mesopotâmia provavelmente já se empregava o gado vacum para puxar o arado. Entre 4 mil e 3 mil a.C., houve uma explosão urbana na Mesopotâmia, destacando-se a região sul nesse processo. No IV milênio a.C., Uruk (Erech na Bíblia) era a cidade mesopotâmica mais importante, sendo que os primeiros vestígios de escrita foram descobertos em Eanna, um dos dois centros mais importantes da cidade. 
  
3. A Mesopotâmia do sul, no Dinástico inicial (2900-2334 a.C.), estava dividida em pequenas cidades-estado, cada qual como o seu próprio deus de guarda. Ao final desse período, as autoridades seculares e religiosas em diferentes em cada cidade, mas até ao final da civilização mesopotâmica, os soberanos seculares exerciam o poder como representantes dos deuses. Foi Sharrum-kin (Sargão) de Acad, que destronou Lugalzagesi, o rei de Uruk, por volta de 2334 a.C., que assinalou o final do Dinástico inicial na Mesopotâmia. O declínio do império comercial de Uruk final deixou um vazio cultural que foi preenchido pela cultura proto-elamita, a leste; pela cultura de Jemdet Nasr, a sul. Contudo, o centro da civilização permaneceu no sul da Mesopotâmia.      

4. Na tradição mesopotâmica posterior, as conquistas dos reis acádios marcam uma ruptura total com o período Dinástico prematuro sumério anterior. Pela primeira vez na história, toda a Mesopotâmia se uniu sob um único soberano e o império acádio foi o modelo que inspirou os reis subsequentes. Com o fim do império acádio, Gudea tornou-se o mais famoso guti integrante da dinastia que reinou em Lagash. Utuhegal (2019-2013 a.C.), rei de Uruk, pôs fim ao domínio dos guti e nomeou Ur-Nammu, seu filho, governador militar da cidade. Ur-Nammu sucedeu ao seu pai e fundou a Terceira Dinastia de Ur. O monumento mais impressionante do seu reinado foi o zigurate de Ur.     

5. Ur-Nammu foi sucedido por seu filho, Shulgi, que governou por 47 anos e criou uma administração unificada da Suméria e da Acádia, expandindo seus domínios até Asur e Susa. Com seus sucessores, o império foi encolhendo, até que em 2004 a.C. os elamitas invadiram Ur. Nessa época, amorreus e hurritas já estavam no Oriente Médio,e estenderam seus domínios nas décadas seguintes. A figura de maior destaque do início do II milênio a.C. foi o amorreu Hamurabi, rei da Babilônia entre 1792 e 1750 a.C. Na segunda metade de seu reinado, ele chegou a dominar a maior parte da Mesopotâmia e acabou com a independência de muitas cidades. Seu maior legado foi o primeiro código de leis escritas da história. Saiba mais aqui.     

6. O filho e sucessor de Hamurabi foi Samsu-iluna. Em 1742, Rim-Sim II de Larsa, um rival do Sul, ocupou Nippur. Samsu-iluna desviou as águas do Eufrates ao sul da Babilônia para forçar o rival a se render, o que produziu uma crise econômica na região a partir de 1739 a.C. Ur acabou arrasada e Rim-Sin rendeu-se em 1737 a.C. Vinte anos depois, Nippur também foi abandonada. Assim como as demais cidades mais meridionais, esteve desabitada durante vários séculos.      

7. No último século do Primeiro Império Babilônico não aparecem menções de campanhas militares nos nomes dos anos. No entanto, durante o reinado de Ammisaduqa (1646-1626 a.C.) foram produzidos dois importantes documentos, o édito de Ammisaduqa e as tabuinhas de Vênus. Estas últimas são uma coleção de observações sobre o nascimento e o ocaso do planeta Vênus. No nono ano do reinado de Samsu-iluna os cassitas foram mencionados pela primeira vez. No início do século XVI a.C., mais especificamente em 1595 a.C., o rei hitita Mursilis desceu pelo Eufrates e saqueou a Babilônia, pondo fim à primeira dinastia babilônica. Após esse episódio, a cidade caldeia entrou num período obscuro de 150 anos, do qual pouco se sabe.   

8. Após Mursilis destruir Alepo e pôr fim à dinastia de Hamurabi na Babilônia, um cunhado o assassinou e se apoderou do trono. Pouco tempo depois, divergências internas e as incursões dos hurritas reduziram o reino hitita aos territórios que rodeavam a sua capital. O Oriente Médio entrou em decadência. A zona dividiu-se em seis potências principais: o Egito, situado no sudoeste; o reino hurrita de Mittani, que controlava o Levante e o norte da Mesopotâmia (incluindo a Assíria e as terras do leste do Tigre); hititas e arzawa governavam o centro e o oeste da Anatólia, respectivamente; os cassitas governavam o sul da Mesopotâmia; os elamitas governavam o Irã.   

9. Com o colapso do reino de Mittani, os hititas passaram a controlar a zona ocidental deste império. Libertados do domínio de Mittani, os assírios estabeleceram-se em termos de igualdade com o Egito, o Hatti e a Babilônia. Em relação aos cassitas, governaram a Babilônia de finais do século XV a.C. até ao século XII a.C. Ao que parece, os reis cassitas adotaram o modo de vida babilônico e, nesse sentido, o período cassita representou uma continuação da antiga civilização da Babilônia.        

10. Nas primeiras décadas do século XII a.C., ocorreram amplos movimentos de povos na região mediterrânica. Os egípcios foram ameaçados por terra e por mar por uma coligação de tribos, a que chamaram de "povos do mar". Merneptah (1244-1214 a.C.) e Ramsés III (1194-1163 a.C.) expulsaram-nos. O Egito, portanto, resistiu, mas Hatti, Ugarit e muitas cidades do Levante e da Grécia caíram. O reino hitita provavelmente foi destruído pelos mushki ou frígios, ainda que no Levante as cidades hititas de Carchemish e de Malatya tenham sobrevivido como centros independentes. No final do século XII a.C., o domínio egípcio sobre a Palestina terminou, e os Peleset estabeleceram ali, dando o seu nome ao país (Filisteia ou Palestina).  

11. Quase nessa mesma época, os hebreus surgiram nessa região, e é possível que suas tribos tenham se estabelecido pacificamente entre os cananeus antes de expulsá-los. Outros povos semitas foram chegando das estepes desérticas. O rei assírio Shalmaneser I lutou contra os ahlamu, que, em 1100 a.C., os seus coetâneos associavam com os arameus. Em diversas ocasiões, a sua língua, de escrita alfabética, substituiu a escrita cuneiforme babilônica e assíria.

12. Os assírios revelaram-se uma força militar irresistível nos sucessivos reinados de Adad-nirari I, Shalmaneser I e Tukulti-Ninurta I (1243-1207 a.C.). Shalmaneser atacou e derrotou o reino de Uruadri (Urartu). Por volta de 1165 a.C., Shutruk-Nahhunte tornou-se rei de Elão e inaugurou um período de grandeza para o seu povo. Ele teria atravessado o rio Ulai e capturado 700 cidades. Seu filho e sucessor, Kutir-Nahhunte, invadiu a Babilônia e pôs fim à dinastia cassita. Mais tarde, Nabucodonosor I (1125-1104 a.C.) levou seu exército aos arredores de Susa e derrotou os elamitas, que ficaram nas sombras pelos próximos três séculos. Os êxitos de Nabucodonosor não se repetiram no norte, onde se bateu com os assírios, primeiro sob Assur-resh-ishi (1132-1115 a.C.) e depois com Tihlath-pileser I (1114-1076 a.C.).   

13. O Oriente Médio, o Egito e a Grécia estiveram mergulhados num período obscuro entre 1200 a.C. e 900 a.C. A Assíria, embora debilitada, sobreviveu aos turbulentos acontecimentos do final do II milênio a.C. e a linha de sucessão de reis assírios não foi interrompida. O núcleo do reino assírio sobreviveu mais ou menos intacto às repetidas incursões aramaicas. Foi a partir de Adad-nirari II (911-891 a.C.), rei que restabeleceu um sólido poder no seu território, que a sorte assíria começou a mudar. Seu filho, Tukulti-Ninurta II (890-884 a.C.), consolidou os êxitos do seu pai e empreendeu campanhas no leste e no nordeste. Seu filho, Assurnasirpal II (883-859 a.C.), empreendeu diversas campanhas, com destaque na zona ocidental, na Síria e no Levante, que foram englobadas ao império assírio.    

14. A rápida expansão assíria no século IX a.C. foi seguida de uma fase de estagnação na primeira metade do século VIII a.C. Este período de debilidade terminou com a ascensão de Tiglath-pileser III (744-727 a.C.). Ao final de seu reinado, a lista das regiões tributárias incluía os estados neo-hititas e aramaicos da Síria e do Tauro, as cidades fenícias do litoral, Israel, Judeia, Gaza, Amon, Moab, Edom e as tribos árabes do interior. Seu filho, Shalmaneser V (726-722 a.C.) foi coroado rei da Babilônia e da Assíria; destruiu o reino de Israel e deportou os israelitas. Foi sucedido por Sargão II, que derrotou Urartu. Seu sucessor foi Senaqueribe, coroado em 704 a.C. Na sequência, Esarhaddon (680-669 a.C.), que derrotou o faraó Taharqa (690-664 a.C.), em 672 a.C. No final de 669 a.C., Assurbaníbal assumiu o trono assírio e concluiu a reconquista do Egito, que passou a ser governado por Necho I, e tornou-se tributário da Assíria. No século VII a.C., os assírios ainda conquistaram Sídon e Tiro.  
  
15. Após a morte do rei assírio Assurbanípal, e de Kandalanu, rei da Babilônia, em 627 a.C. a.C., surgiu um dirigente babilônico de origem incerta que adotou o nome de Nabopolassar. A 23 de novembro de 626 a.C. ele transformou-se no fundador da dinastia neobabilônica ou caldeia. Durante dez anos, a Babilônia foi cenário de combates entre babilônios e assírios. Em 614 a.C., Assur foi tomada. Nabopolassar fez então um tratado com os medos, e ambos sitiaram Nínive, que caiu após um cerco de três meses. Em 610 a.C., os egípcios foram em socorro aos assírios, derrotando e assassinando o rei Josias, de Judá (609 a.C.); a seguir, estabeleceram-se em Carquemis. Em 605 a.C., os babilônios, liderados por Nabucodonosor, derrotaram os egípcios em Hama, expulsando-os da região. No mesmo ano, Nabopolassar morreu e Nabucodonosor assumiu o trono. Em 597 a.C., conquistou Jerusalém, levando os judeus para o cativeiro. Nabucodonosor morreu em 562 a.C., sendo sucedido por Amel-Marduque (561-560 a.C.), Nergal-sar-usur (559-556 a.C.), Labasi-Marduque (556 a.C.) e, finalmente, Nabonido (555-539 a.C.), o governante nominal da Babilônia por ocasião da conquista medo-persa, em 539 a.C.       
  
Bibliografia consultada: ROAF, Michael. Grandes impérios e civilizações - Mesopotâmia. Tradução: Videlec, S.L. Madri: Del Prado, 1997. 

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