“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Uma Final Olímpica na Guerra Fria

domingo, 10 de março de 2019

Imagine uma final olímpica de basquetebol eletrizante. A seleção norte-americana de basquete mostrava-se invicta em todas as partidas desde Berlim, em 1936, quando essa modalidade desportiva foi introduzidas nos Jogos Olímpicos de Verão. Mas, na final das Olimpíadas de Munique, em 1972, entre Estados Unidos e União Soviética, tudo mudou. 

Desde o início da partida, disputada no a 10 de setembro, a invencibilidade estadunidense parecia estar indo por água abaixo: no primeiro tempo, os soviéticos venceram por 26 a 21. No segundo tempo, a diferença de cinco pontos foi ampliada para dez. Foi apenas nos últimos 6 minutos de jogo que a partida tornou-se dramática, com a seleção americana reduzindo a diferença de pontos. Faltando apenas 10 segundos para o fim, os soviéticos estavam apenas com um ponto à frente - 49 a 48 - mas com a posse de bola. 

Após uma disputa pela bola, o jogador americano Doug Collins sofreu uma falta. Faltavam apenas três segundos para o fim e ele precisava converter um lance livre para o empate e o outro para colocar os Estados Unidos à frente. Ele encestou os dois. 

Os soviéticos colocaram a bola em jogo rapidamente, buscando um atacante. Dois segundos mais se passaram, e então o árbitro brasileiro Renato Righetto interrompeu a partida por um pedido do banco soviético. A comissão técnica do país socialista exigia a devolução do tempo extra de 3 segundos. O juiz brasileiro deu apenas um. 

O jogo foi novamente interrompido. William Jones, o secretário britânico da Fiba, interveio e ordenou que o relógio fosse recuado para restar 3 segundos. Até hoje os norte-americanos sustentam que Jones não tinha autoridade para tomar essa decisão. 

O jogo foi retomado, e os soviéticos falharam ao tentar um longo passe. Novamente, os atletas norte-americanos comemoravam o ouro, acreditando que tinham vencido o sétimo título olímpico seguido. No entanto, o relógio do ginásio ainda estava sendo ajustado quando o relógio foi retomado. Após intensas reclamações dos soviéticos, os 3 segundos foram restabelecidos novamente. 

O desconforto era geral, após tanta confusão. Os norte-americanos, nervosos e com receio de conceder uma falta técnica, não fizeram uma marcação cerrada sobre Ivan Edeshko, no fundo da quadra soviética. O passe longo desse atleta encontrou no garrafão do outro lado da quadra o jogador Alexander Belov, que evitou Jim Forbes e Kevin Joyce e subiu para encestar. A seguir, correu loucamente em direção aos seus companheiros. 51 a 50 em favor da União Soviética. 

O protesto norte-americano foi imediato. Os dirigentes entraram com uma apelação contra o resultado que, depois de horas de análise dos juízes, foi negada. A União Soviética era a campeã olímpica, uma catástrofe nacional para os americanos. 

A indignação dos norte-americanos foi tamanha que eles se recusaram a aceitar a medalha de prata. Pela primeira vez na história olímpica, o segundo lugar no pódio ficou vazio e o conjunto de medalhas de prata não pôde ser entregue. "O time americano ficou irritado, mas sem razão. Era a Guerra Fria. Os americanos, à parte seu natural orgulho e amor pela pátria, não queriam perder, sequer admitiam perder. Não queriam perder em qualquer esporte, muito menos no basquetebol", declarou Ivan Edeshko, autor do passe para a vitória dos soviéticos. 

Alexander Belov, o autor da cesta da vitória soviética, morreu seis anos após a Olimpíada, aos 26 anos. Sergei Belov, reconhecido mais tarde como o melhor jogador europeu de basquete de todos os tempos, foi o primeiro jogador internacional a ser eleito para o Hall da fama desse esporte. Ele faleceu em 2013. 

Com informações de Opera Mundi.

1 comentários:

Júlia Peterle disse...

Adorei!!!

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