“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

O Manifesto de um Professor

segunda-feira, 11 de maio de 2020


Em 2017, concedi uma entrevista na qual falei sobre a minha profissão, o que me levou a escolher a carreira de historiador/professor de História, o que me motiva e outros detalhes. As perguntas e respostas estão disponíveis aqui. Ora, mapear a trajetória de um historiador, suas ideias, formação, etc. é fundamental para entender a natureza do seu trabalho, conforme defendeu Edward H. Carr no clássico Que é História?. Nesse sentido, neste post eu acrescentarei mais algumas informações sobre como eu vejo o mundo. E, em particular, revelarei como me posiciono politicamente.

Para já, deixo claro que não tenho a intenção de ofender ninguém (sim, hoje toda cautela é pouca...). Especialmente você, leitor ou aluno, não se sinta constrangido a concordar comigo. Alunos, não tenham receio de discordar de meus posicionamentos, especialmente quando tocamos em questões polêmicas da experiência humana. Como disse na entrevista que indiquei acima, uma das maiores contribuições da História à humanidade é que ela nos torna mais tolerantes. Pelo menos a História com "h" maiúsculo.

Começo por observar que não separo as atividades de historiador e professor de História. Assim, entendo que um profissional sério na área de História segue os métodos mais rigorosos de pesquisa. Suas preferências pessoais e ideológicas devem se subordinar ao peso das evidências - em suma, os documentos históricos. No caso do magistério, a ementa da disciplina ou o programa curricular são seguidos da forma mais rigorosa possível. Além disso, o professor não se aproveita da audiência cativa dos seus alunos para promover seus próprios interesses, opiniões, concepções, ou preferências ideológicas, religiosas, morais, políticas e partidárias. Nesse sentido, não favorece ou prejudica seus alunos em razão dessas convicções, ou da falta delas. Em síntese, age da forma mais ética e justa possível, ainda que a objetividade plena na pesquisa histórica seja inalcançável. Isso porque, como sabemos, o sujeito se confunde com o objeto de pesquisa.

Posto isso, vamos ao meu manifesto propriamente dito. Sou monarquista. Sim, não hesito em dizê-lo. Mas não anseio por um reino deste mundo, e sim o Reino de Deus (cf. Lc 17:20-21). Todos os governos ao longo da História, da "cabeça de ouro" aos pés de barro e ferro (cf. a estátua de Dn 2), de algum modo, têm sido instrumentos do príncipe das trevas, uma vez que o mundo "jaz sob o Maligno" (1 Jo 5:19). Não compete a mim combatê-los, "pois não é contra carne e sangue que temos que lutar, mas sim contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes do mundo destas trevas, contra as hostes espirituais da iniquidade nas regiões celestes" (Ef 6:12). 

Isso talvez frustre aqueles que acham que cursei História para ser um revolucionário. Pois é, eu sei. Mas é Deus quem "muda os tempos e as estações; ELE remove os reis e estabelece os reis... " (Dn 2:21). Creio também que "o destino de um país não depende de como votamos nas eleições (...), não depende do tipo de papel que depositamos na urna (...), mas do tipo de homem que cada um de nós coloca na rua ao sair de casa a cada manhã" (THOREAU, H. D. A Escravidão em Massachusetts [1854]. In: A Desobediência Civil. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2012, p. 74-75).  

Mesmo que seja um forasteiro na Terra, não fico alheio às necessidades do meu próximo, muito pelo contrário. A responsabilidade de ajudar aos necessitados é dos indivíduos, famílias e igrejas; só em situações extremas deve ser delegada ao Estado. Além disso, defendo a preservação do oikos, a natureza; afinal, em breve Deus irá "destruir os que destroem a Terra" (Ap 11:18).

E em relação às autoridades, sejam elas de direita, centro ou esquerda, qual é a minha atitude? Rogo ao Pai celeste por todos, a fim de que "tenhamos uma vida tranquila e pacífica" (1 Tm 2:1-2). Ora, é indiscutível que tal paz e tranquilidade existem principalmente em países que adotam a democracia liberal. O Estado laico, o respeito aos direitos individuais e o livre comércio formam o contexto mais favorável à pregação do Evangelho Eterno, a última verdade presente (ver Ap 14:6-12). Quando este evangelho do Reino for pregado "em todo o mundo, em testemunho de todas as nações", então virá o fim (Mt 24:14). Nunca mais então a humanidade sofrerá injustiças, violência e opressão. A morte será, finalmente, "tragada na vitória" (1 Co 15:54).

Nisto acredito, e essa será a pedra cortada "sem auxílio de mãos" (Dn 2:45) que encerrá o drama deste mundo.         

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