quinta-feira, 15 de abril de 2021
Não há números precisos sobre a contagem final dos astecas mortos de doença durante os anos de 1519-21. Durante a maior parte do século XVI, o México foi atingido por uma sucessão de doenças europeias - varíola, gripe, peste, caxumba, coqueluche e sarampo - que reduziram sua população nativa de 75 a 95% em relação a seu total antes da invasão. Assim, de 20 a 25 milhões de habitantes antes da invasão europeia, a população indígena caiu para apenas um ou dois milhões de nativos um século depois.
Estudos estimam que algo entre 20 e 40% de toda a população do México central - tanto astecas quanto seus inimigos - sucumbiram à primeira vaga de varíola, em 1520. Apesar disso, não está claro que a varíola tenha tido muito a ver com a destruição final de Tenochtitlán, a capital da Confederação Asteca. Isso porque, após o primeiro impacto da doença, ela quase desapareceu no momento do grande cerco (de abril a agosto de 1521). Quando Cortés se aproximou da cidade para sua segunda campanha, em abril de 1521, ela estava livre da doença por quase seis meses. A varíola também matou milhares de aliados de Crotés em números ainda maiores do que os astecas, já que os totonacas, os chalcatecas e os tlaxcaltecas estavam em contato mais estreito com a sucessão de desembarques europeus em Vera Cruz, onde a epidemia originou. Além disso, a doença parece ter sido mais virulenta na costa. Em um grau limitado, o isolamento insular de Tenochtitlán, sua altitude e a terra de ninguém do campo de batalha proporcionavam uma barreira inicial contra focos diretos de infecção.
O argumento da doença tem um outro lado: havia uma variedade de doenças tropicais com as quais os europeus não tinham quase nenhuma experiência e contra as quais praticamente não tinham imunidade. Os relatos mencionam males constantes nos brônquios e febres que enfraqueciam seriamente, e algumas vezes matavam, os soldados de Cortés. As malárias e disenterias do Novo Mundo eram muito virulentas. Alguns também sofriam de úlceras do tipo sifilítico. Devido ao pequeno número de homens em seu exército, até mesmo poucas dúzias de espanhóis com a doença poderiam ter tido um efeito tão grande na eficácia militar relativa dos conquistadores quanto os milhares de índios infectados em um império asteca de mais de um milhão de pessoas. Além disso, a varíola, embora mencionada, nunca é caracterizada como um fator predominante em qualquer dos dois lados do combate.
Como consequência do legado de Hipócrates e Galeno, os espanhóis se deram conta de que o contato próximo com os doentes espalhava a infecção. Assim, além de enfatizarem uma quarentena adequada, eles seguiam dietas medicinais, sono e incineração cuidadosa dos mortos. Os nativos, por outro lado, acreditavam que as doenças internas eram obra de deuses ou adversários maus, e poderiam ser vencidas por feitiços e sortilégios. A ideia de dormir e tomar banho em grupo, frequentar saunas públicas, comer no chão, vestir peles humanas, praticar o canibalismo ou não enterrar e eliminar imediatamente os mortos tinha algo a ver com a disseminação da doença entre os indígenas.
Qual foi a importância da varíola para a conquista espanhola? Como os espanhóis não morriam com a mesma frequência que os indígenas, difundiu-se a ideia - em grande parte esquecida durante algum tempo depois da Noche Triste - de que os europeus eram mais do que mortais. À medida que a varíola se espalhava pela população mesoamericana e dizimava sua elite, os castelhanos tomavam cuidado para apoiar e ajudar apenas os novos líderes que fossem favoráveis à sua causa. A varíola aumentou a reputação de força sobre-humana dos espanhóis e solidificou seu apoio entre os aliados indígenas, apesar de a doença ter vitimado tanto aliados quanto inimigos.
Adaptado de HANSON, Victor Davis. Por que o Ocidente Venceu - Massacre e cultura, da Grécia antiga ao Vietnã. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 306-310.
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