domingo, 15 de dezembro de 2024
LIVRO VII
XLVI. Artábano, seu tio pelo lado paterno, que havia procurado dissuadi-lo da ideia de uma guerra contra a Grécia, falando-lhe sem rodeios e com toda a franqueza sobre um tal empreendimento, vendo-o a chorar, a ele se dirigiu nestes termos: "Senhor, vossa conduta de agora é bem diferente da de há pouco. Há momentos, vós vos consideráveis feliz, e agora derramais lágrimas." "Quando refleti - volveu Xerxes - sobre a brevidade da vida humana e ao pensar que de tantos milhões de homens não restará um só dentro de cem anos, senti-me tomado de compaixão." "Experimentamos, no decurso de nossa vida - tornou Artábano -, coisas bem mais tristes do que o próprio sentimento da morte. Apesar da brevidade da vida humana, a que vos referistes, não há homem feliz, seja no meio dessa multidão, seja em todo o universo, ao qual não venha ao espírito, já não digo uma vez, mas frequentemente, o desejo de morrer. As vicissitudes por que passamos, as enfermidades que nos perturbam, fazem com que a vida nos pareça bem longa, por mais curta que ela seja. Numa existência tão infeliz, o homem vive a suspirar pela morte, encarando-a como um porto de salvação. Se temperamos a acridez de nossa vida com alguns prazeres, os deuses logo manifestam o seu ciúme."
HERÓDOTO. História. Estudo crítico de Vítor de Azevedo e tradução de J. Brito Broca. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d, p. 240.
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