quarta-feira, 1 de janeiro de 2025
A relação entre o judaísmo e o socialismo soviético é uma longa história marcada pela incompreensão, pela hostilidade, e finalmente pela tragédia. Quando eclodiu a revolução bolchevique, em 1917, muitos judeus a ela aderiram entusiasticamente, convictos de que através de um regime igualitário teriam fim os sofrimentos do povo judeu. Tal não aconteceu; a emancipação judaica nunca chegou a ocorrer na URSS, e entre os expurgados e eliminados, estava um número suspeitável de judeus.
Ao comprovar sua incapacidade de viver conforme suas tradições, ou de abandonar o país, dois milhões de judeus soviéticos se voltaram precocemente para o humor, como meio de superar as extraordinárias pressões e tensões da existência cotidiana. Neste sentido, bem podem ser considerados precursores da Perestroika.
O humor judaico, por ser essencialmente antiautoritário, se desenvolve mais onde a censura é maior; vai de boca em boca à velocidade da luz e não pode ser detido por nenhuma KGB. Talvez os judeus não sejam livres, mas a piada judaica certamente o é.
No transcurso de todo o humor posterior a 1917, o herói central da piada judia - o pobre Abraham Rabinovich - se ajeita para enfrentar a vida com infinita reserva de bom-senso e otimismo, configurando, talvez, a mais rica tradição oral da URSS. Este mítico e satírico personagem, que enlouquece as autoridades com sua lógica e ironia, é sem nenhuma dúvida uma das figuras que definem o campo de humor judaico na União Soviética.
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