“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

O Mufti de Jerusalém e os Nazistas

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

                             O mufti al-Husseini e Hitler, em 1941.

A 28 de setembro de 1944, Churchill anunciou na Câmara dos Comuns que um Grupo de Brigadas judaicas seria organizado, treinado e armado pela Grã-Bretanha como uma unidade militar para atuar na linha de frente. Cinco dias mais tarde, a 3 de outubro, o mufti de Jerusalém, então em Berlim, escreveu ao comandante das SS, Heinrich Himmler, propondo-lhe o estabelecimento de "um exército árabe islâmico na Alemanha". O governo alemão, acrescentava Haj Amin, "deveria declarar a sua prontidão para treinar e armar esse exército. Desse modo, desferiria um duro golpe contra os planos dos britânicos e aumentaria o número de combatentes por uma Alemanha mais vasta".

O mufti estava convencido de que, ao colocar um exército árabe ao serviço dos alemães, "teria repercussões extraordinariamente favoráveis nos países árabes islâmicos", por isso sugeriu o dia 2 de novembro, o aniversário da "infame Declaração de Balfour", para data do anúncio público. Um oficial de alta patente das SS já comunicara a Himmler que, numa conversa que tivera lugar a 28 de setembro, o mufti "comentara alegremente que se aproximava o dia em que conduziria um exército para conquistar a Palestina". Mas semelhante anúncio nunca viria a ser feito e o exército do mufti não passou de uma ficção produzida pela sua imaginação antissionista. O mufti permaneceu em Berlim, supervisionando as transmissões de propaganda nazi para o Médio Oriente e organizando o lançamento de paraquedistas em áreas controladas pelos britânicos. Um mês após o envio da carta do mufti a Himmler, foram lançados no norte do Iraque quatro paraquedistas árabes. Tinham como objetivo sabotar instalações petrolíferas britânicas, mas o chefe da aldeia informou a polícia e os sabotadores foram detidos.

Entretanto, os esforços do mufti no sentido de apoiar os nazistas não pararam por aí. Ao longo da Segunda Guerra Mundial, ele ajudou a organizar uma divisão das SS na Bósnia e, por isso, ao final do conflito foi detido pelos Aliados na França. Ali ele deveria aguardar o julgamento por crimes de guerra, mas escapou por pouco (da mesma forma que escapara aos britânicos, na Palestina, em 1937). Foi então para o Egito, onde, até à sua morte, 25 anos mais tarde, exortou os árabes da Palestina a desafiar de todas as formas ao seu alcance a colonização judaica, ao mesmo tempo que reivindicava a expulsão de todos os judeus da Palestina.


GILBERT, MartinHistória de Israel. Tradução de Patrícia Xavier. Lisboa: 70, 2009, p. 140-141 e 179. Adaptado.

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