Manto tupinambá utilizado em rituais canibais.
"Em 1585, na Bahia, uma pequena tropa comandada por um capitão entrou em uma fazenda chamada Jaguaripe. Procuravam por uma grande maloca nas imediações da casa-grande onde um grupo de indígenas Tupinambá celebrava um culto estranho, cuja mensagem era temida pelos fazendeiros da região. Misturando elementos das crenças indígenas a noções e rituais católicos, eram liderados por uma indígena, por eles chamada de Maria Mãe de Deus. Usavam rosários e diziam orações, mas dançavam em torno de um ídolo de pedra. Recorriam ao tabaco como nos ritos indígenas, mas haviam plantado uma cruz diante de sua porta. Não era à toa que esse 'catolicismo Tupiniquim', como o classificou o historiador Ronaldo Vainfas, suscitava a suspeita dos proprietários. Seus mensageiros - na verdade, pajés - circulavam por engenhos, fazendas e missões jesuítas instigando os indígenas escravizados a se revoltarem. Incitavam-nos a abandonar o trabalho, pois uma nova era se anunciava, na qual plantações brotariam por si só, as flechas caçariam sozinhas e os portugueses é que seriam escravos dos nativos.
Nesse futuro que vislumbravam por meio de um sincretismo religioso, era possível perceber os contornos da Terra Sem Males, uma espécie de paraíso que integrava as crenças dos Tupi. Com essa pregação, atraíam um número cada vez maior de adeptos na região, alarmando fazendeiros e padres. A tropa dissolveu o movimento e as autoridades desterraram seus líderes. Mas outras manifestações semelhantes - conhecidas como milenaristas - continuaram a vir à tona eventualmente, sendo uma das muitas formas que assumiu a resistência dos indígenas ao jugo imposto pelos colonizadores."
CAMPOS, C. L. & FIGUEIREDO, C. História e Cultura dos Povos Indígenas no Brasil. São Paulo: Barsa Planeta, 2009, p. 68.
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