segunda-feira, 14 de novembro de 2016
O historiador galês Christopher Dawson (1889-1970) dedicou sua longa e aclamada carreira principalmente ao estudo da história da religião. Suas pesquisas são marcadas por um diálogo interdisciplinar com a antropologia, a sociologia, a filosofia, a teologia e a literatura.
A Formação da Cristandade foi lançada em 1967, dois anos após A Divisão da Cristandade. Essas obras são o legado das aulas que o autor ministrou entre 1958 e 1962, na Universidade de Havard, nos Estados Unidos. Sem negligenciar os aspectos políticos e econômicos, Christopher Dawson abordou a história a partir de um prisma cultural. Como em todos os demais trabalhos do autor, a religião é vista nesses livros como o elemento dinâmico da cultura. Na sua ótica, o mundo é dividido em duas esferas religiosas: três grandes religiões predominam no Oriente (confucionismo, bramanismo e budismo), e três no Ocidente (judaísmo, cristianismo e islamismo).
A Formação da Cristandade delineia as origens do mundo cristão desde as raízes judaicas e helenísticas até o colapso da cristandade medieval. A obra é dividida em três partes. Os objetivos e os fundamentos teóricos do estudo são apresentados na primeira. A segunda narra os primórdios da cultura cristã na Antiguidade. "No caso do catolicismo, todavia, cada sucessiva era da Igreja manifesta um aspecto diferente da catolicidade e, poderíamos dizer, uma forma diferente de cultura católica" (p. 97). O ponto alto do livro está na parte final, que trata da formação, desenvolvimento e declínio da cristandade na Idade Média. No epílogo, o autor discute o ideal de sociedade espiritual universal defendido pela cristandade, apontando questões de grande importância histórica para todos os que desejam entender os primeiros séculos do cristianismo.
A edição da É Realizações tem prós e contras. O principal aspecto negativo, ao meu ver, são os longos prolegômenos: o leitor precisa romper mais de 80 páginas de apresentações, notas e prefácio antes de ter contato com o texto do próprio Dawson. Por outro lado, foi realizado um trabalho sério e deveras completo de tradução e notas.
Embora Dawson seja aclamado pela erudição, clareza e moderação, eu tenho as minhas ressalvas com relação à intencionalidade que subjaz o seu texto, qual seja, um declarado comprometimento com o ecumenismo. Isso transparece já no início da obra, e fica claro no posfácio, escrito por Alex Catharino (que se esforça para matizar o engajamento ecumênico de Dawson... debalde). Nesse encerramento do livro, são citados dois trechos de uma entrevista concedida pelo historiador em 1961. Na primeira citação, Dawson destaca que os católicos devem aprender com os protestantes a terem uma maior familiaridade com a Bíblia e um maior senso de responsabilidade social. Por outro lado, os protestantes "podem" aprender com os católicos "que a verdadeira Igreja deve necessariamente ser universal e internacional" (p. 423).
Obviamente, isso não desqualifica a obra, que é rica em informações históricas, e muito bem escrita. Contudo, é de se lamentar que um historiador de tamanha envergadura abra mão da objetividade em seus escritos.
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