“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Apocalipse à Vista

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Cientistas avançam o ponteiro do relógio Doomsday: o mundo à beira do Juízo Final.

      Na antiga Pérsia, o zoroastrismo já ensinava sobre a vinda de um messias e o Juízo Final. Para alguns estudiosos, essas e outras crenças teriam influenciado o judaísmo, cujas esperanças messiânicas podem ser encontradas sobretudo nos livros dos profetas Isaías, Ezequiel e Daniel.
    A crença na destruição do mal e no estabelecimento do reino messiânico foi transmitida dos círculos judaicos aos cristãos principalmente pelo apóstolo João, autor do Apocalipse. Desde então, a chegada do Anticristo e o fim do mundo passaram a integrar as crenças profundas dos seguidores de Jesus, e Santo Agostinho consagrou todo o livro XX de A Cidade de Deus a tais temas.
      Ao longo da Idade Média, a Igreja Católica meditou sobre o fim da história humana tal como foi profetizada pelos diferentes textos apocalípticos. Basta citar, por exemplo, os escritos do monge Beato de Liébana (final do séc. VIII), o Apocalipse de Saint-Sever (séc. XI) e Joaquim de Fiore (1135-1202), famoso pelas teses milenaristas. No campo da icnografia, destacam-se as magníficas igrejas francesas dos séculos XII e XIII com suas cenas do Juízo Final.
      A pesquisa histórica em boa medida derrubou a lenda dos terrores do ano mil. Entretanto, a partir do século XIV, na Europa, houve um reforço e uma difusão mais ampla do temor do fim dos tempos. Segundo o historiador Johan Huizinga, autor do clássico O Outono da Idade Média, o sentimento geral nessa época é que "a aniquilação universal" se aproximava.
      O medo do fim seguiu em alta. Entre os últimos anos do século XV e os primeiros do século XVI, o Apocalipse apoderou-se como nunca do imaginário dos homens. Clérigos chegaram a organizar debates públicos sobre os sinais do fim dos tempos, e o grande reformador Martinho Lutero, que viveu nessa época, acreditava na iminência do fim do mundo. 
    Até a descoberta da América foi interpretada pelos religiosos que desembarcaram no Novo Mundo como um sinal de que o fim dos tempos ou o reino dos santos estava próximo.
     No contexto do Segundo Grande Despertar, milhares de mileritas marcaram a segunda vinda de Jesus para o dia 22 de outubro de 1844. Do desapontamento que se seguiu, nasceram grupos religiosos que até hoje mantêm um senso escatológico em sua missão, como os adventistas do sétimo dia e as testemunhas de Jeová.
    As profecias apocalípticas mais recentes, contudo, nada têm a ver com religiosos. No início de janeiro, um relatório do Conselho Nacional de Informações dos Estados Unidos divulgou que o risco de conflitos é o maior desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
   Nos próximos cinco anos, a liderança norte-americana seguirá em declínio e a cooperação internacional será mais difícil. O relatório ainda inclui disparidades econômicas extremas, deslocações tecnológicas, mudanças demográficas, os impactos das alterações climáticas e a intensificação dos conflitos identitários.
     Como se não bastasse, ainda no mês passado o Boletim dos Cientistas Atômicos moveu o ponteiro do relógio Doomsday, de três minutos para dois minutos e meio antes da meia-noite.
    Esse relógio simboliza quão perto estamos de uma hecatombe - quanto mais próximo da meia-noite, mais iminente está o fim do mundo, na avaliação dos pesquisadores. Desde 1953, é o mais próximo que o relógio chegou da meia-noite. 
     Não é preciso ser um homem de fé para acreditar na proximidade do "apocalipse".

Publicado no jornal A Tribuna de hoje.

0 comentários:

Enviar um comentário