sexta-feira, 24 de março de 2017
Em outra ocasião, falando Sócrates a respeito da amizade, ouvi-lhe dizer coisas utilíssimas para aprender a conquistar amigos e com eles lidar. Dizia ouvir muita gente repetir ser um amigo sincero e virtuoso o mais precioso de todos os bens, mas de tudo se ocuparem exceto da aquisição de amigos. Afirmava ver toda gente empenhar-se em adquirir casas, terras, escravos, rebanhos, móveis e esforçar-se por conservar o que possui. Mas um amigo, que se considera o mais precioso de todos os bens, não via ninguém cuidar de adquiri-lo e, uma vez adquirido, de conservá-lo. Adoecesse um amigo, não moviam uma palha. Morresse um escravo, choravam-no e consideravam-lhe a morte uma perda. Morresse um amigo e nada julgariam ter perdido. Não descuidam de nenhum de seus bens, mas negligenciam os amigos que necessitam de seus cuidados. Acrescentava a isto que a maior parte dos homens conhece muito bem, por extenso que seja, o rol de tudo o que possuem; quanto aos amigos, por poucos que sejam, não só lhes ignoram o número, mas quando se lhes pergunta quantos possuem, atrapalham-se na enumeração, tanto se importam com os amigos! Contudo, qual o bem comparável a um amigo sincero?
Xenofonte, Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates, Livro II, Cap. IV.
In: Sócrates. Tradução de Enrico Corvisieri e Mirtes Coscodai. São Paulo: Nova Cultural, 2004, p. 139.
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