“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

#15Fatos História do Irã no Séc. XX

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Ruhollah Khomeini retorna do exílio, em plena Revolução Iraniana (1979).

1. No início do século XX, a Pérsia (o nome "Irã" só foi adotado em 1935) permanecia sob a dinastia turca dos Kadjars, que se equilibravam entre as pressões russas, de um lado, e as pressões britânicas de outro lado. Em 1907, a rivalidade entre as duas potências culminou num tratado que repartiu a Pérsia em duas zonas de influência.  

2. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), tropas russas e britânicas ocuparam a meseta do Irã com o pretexto de impedir que a Pérsia tomasse partido em favor dos Impérios Centrais (Alemanha, Império Austro-Húngaro e Itália [até 1915, quando mudou de lado]). 
  
3. O Xá Mozafer ed-Din (1896-1907), antes de morrer, prometeu uma constituição parlamentar, mas seu filho e sucessor, Mohamed Ali (1907-1909), após haver reunido o Parlamento, voltou ao absolutismo em 1908. Contudo, foi forçado a abdicar em 1909. A constituição persa adotada em 1906 vigorou até a revolução islâmica, embora não tenha sido aplicada entre 1911 e 1920, e entre 1941 e 1953.

4. Durante a Primeira Guerra Mundial, apesar de neutra, a Pérsia foi utilizada como campo de batalha tanto pelos anglo-russos como pelos turcos, aliados dos alemães. A Revolução Russa e a desintegração do Império Otomano deixaram o campo livre para a influência britânica, que estabeleceu um verdadeiro protetorado em 1919. A Pérsia, embora não tenha sido beligerante, sofreu as consequências do conflito mundial: a decadência e a miséria perturbaram a vida social e política. Uma revolta desencadeada no Ghilan levou o governo a designar, em fevereiro de 1921, o general Reza Khan para combater os rebeldes.     

5. Deve-se registrar aqui a incapacidade do shah Ahmed Shah de governar o país, cujas finanças se encontravam em desastrosa situação. Reza Khan compreendeu que o mal não se encontrava no Ghilan, "mas na casa imperial reinante, nos governos negligentemente pacíficos e corrompidos que se sucediam, na fraqueza dos homens. Mesmo que a insurreição fosse vencida, nada de essencial seria modificado. Era necessário atacar o mal em sua base e agir imediatamente."     

6. Reza Khan decidiu então marchar sobre a capital, destituiu os membros do governo e iniciou reformas políticas, financeiras e econômicas. O último Xá da dinastia Kadjars abandonou a Pérsia e se exilou em Paris. Houve um interregno com um fraco regente que se afastou do poder, e Reza Khan, ditador, acabou fundando a dinastia palavia. Assim, Reza Khan jurou fidelidade ao Irã, à constituição e, no dia seguinte (15 de dezembro de 1926), coroou-se. 

7. O novo Xá estimulou o desenvolvimento econômico e incentivou reformas com tendências ocidentais, mas tendo o cuidado de respeitar os ideais religiosos mantidos pelo poderoso clero xiita. Promoveu a reforma agrária, limitando os latifúndios; reformou os costumes, propiciando às mulheres uma participação social mais ativa, inclusive o acesso aos estudos; ainda criou tribunais seculares leigos e instituiu o serviço militar obrigatório. 

8. Em relação à infraestrutura, construiu estradas, ferrovias e importantes meios de irrigação. Quanto à exploração petrolífera, tratou com a Anglo Iranian Oil Company visando melhor participação estatal. Em 1935, determinou que a Pérsia passasse a se chamar Irã, isto é, o país dos arianos. Na política externa, Reza Pahlavi procurou libertar-se da tutela da União Soviética e da Grã-Bretanha e manter boas relações com os países limítrofes. A atuação governamental do Xá sofreu abalo com a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Teerã proclamou a sua neutralidade, mas a despeito disso o país foi invadido por britânicos e soviéticos após a União Soviética ser invadida pelos alemães (junho de 1941). Os britânicos e soviéticos retaliavam assim o governo iraniano por não ter expulsado numerosos conselheiros alemães que se encontravam no Irã.  

9. Com isso, Reza Pahlavi abdicou em favor de seu jovem filho, Mohammed Reza Pahlavi. Este autorizou a permanência de tropas estrangeiras no país e, consequentemente, a independência do Irã foi reconhecida na Conferência de Teerã (dezembro de 1943). Além disso, o Irã obteve lugar na ONU (1945). Ao final da guerra, houve um renascimento do nacionalismo iraniano, que se opunha à ingerência norte-americana, bem como à atuação da Anglo-Iranian Oil Company (AIOC).  

10. O Partido Comunista (Tudeh), organizado sob a proteção soviética, formou governos autônomos no Azerbaijão e no Curdistão. Um atentado contra o Xá em 1949 resultou na dissolução do Tudeh, seguida de uma reforma de caráter liberal da constituição. O apoio financeiro dos Estados Unidos ao país levou à radicalização da oposição nacionalista contrária não só à ingerência americana como também à atuação Anglo-Iraniana. Em março de 1951, o parlamento proclamou a nacionalização do petróleo.

11. Em 1953, o primeiro-ministro Mohammed Mossadecq (1881-1967), que havia ratificado a nacionalização sem a devida indenização, foi destituído e preso. Com isso, o Xá começou a exercer um poder ditatorial. Além disso, pelas décadas de 1960 a 1970, Reza Pahlavi promoveu uma política de ocidentalização no Irã. A alta do petróleo, em 1973, acelerou os projetos de industrialização do país, que se encontrava sob plena influência dos Estados Unidos.    

12. Apesar disso, desenvolveu-se um movimento nacionalista revolucionário com a predominância do clero xiita, cujos interesses eram lesados pelo soberano. Tal movimento recebia a inspiração do ayatollah Khomeini (1902-1989). Este, em 1978, exilou-se na França. Após fortes manifestações hostis durante o ano de 1978, o Xá viu-se forçado a abandonar o país em janeiro de 1979.  
  
13. No mês seguinte à queda do Xá, Ruhollah Khomeini regressou a Teerã e foi recebido triunfalmente por uma multidão de cerca de quatro milhões de pessoas. O líder xiita monopolizou a oposição ao Xá, oposição esta formada de diversas correntes ideológicas. Khomeini encarnou uma revolução islâmica e passou a deter a autoridade suprema no Estado. 

14. Em setembro de 1980, tropas do Iraque invadiram o Irã. A agressão suscitou forte onda patriótica que fortaleceu Khomeini, permitindo-lhe afastar os aliados políticos cujos ideais não lhe agradavam. Em 1983, os iraquianos foram repelidos para fora do país, mas só em 1988, sob a égide da ONU, foi estabelecido um cessar-fogo entre as duas nações. Cerca de um milhão de pessoas morreram no conflito, que terminou num impasse. 

15. Khomeini morreu em junho de 1989, deixando o país isolado na área internacional. Em 1997, foi eleito para a presidência da República o reformador Muhammad Khatami. Apesar disso, o sucessor de Khomeini, escolhido por um conselho de líderes religiosos, é Khamenei, que, com seus aliados, controla o exército, a polícia, o Poder Judiciário e a guarda revolucionária. Desta forma, não há sinais de fragilidade por parte da teocracia islâmica que controla o Irã. Pelo contrário, o país prossegue com um controverso programa nuclear, ameaça Israel, financia terroristas e oprime minorias, como cristãos e homossexuais (estes, muitas vezes, são pressionados a mudar de sexo para não serem mortos).   
  
Bibliografia consultada: GIORDANI, Mário Curtis. História do Século XX. Aparecida, São Paulo: Ideias & Letras, 2012, p. 524-528.

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