quinta-feira, 24 de outubro de 2019
Protesto antissemita de muçulmanos. Berlim, Alemanha, dezembro de 2017.
"(...) Talvez uma das causas para o aumento do fanatismo seja a avidez cada vez mais acentuada por soluções simples e contundentes, pela salvação 'de um golpe só'. Além disso, estamos todos nos afastando dos horrores que aconteceram na primeira metade do século XX: Stálin e Hitler, sem que fosse sua intenção, fizeram com que duas ou três gerações que lhes sucederam desenvolvessem um temor profundo ante todo extremismo e, em certa medida, uma contenção dos instintos que levam ao fanatismo. Durante algumas dezenas de anos, graças aos maiores assassinos que o século XX conheceu, racistas se envergonhavam um pouco de seu racismo, quem estava cheio de ódio reprimia um pouco do seu ódio, e os redutos de fanatismo no mundo controlavam um pouco suas manifestações, talvez não em toda parte, mas pelo menos em alguns lugares.
Nos anos mais recentes parece que esse 'tributo' de Stálin, de Hitler, dos militaristas japoneses, está se aproximando do seu prazo de validade. A vacinação parcial que recebemos está se esgotando; ódio, fanatismo, aversão ao outro e ao diferente, brutalidade revolucionária, o fervor em 'esmagar definitivamente todos os malvados mediante um banho de sangue', tudo isso está ressurgindo."
OZ, Amós. Mais de uma luz: fanatismo, fé e convivência no século XXI. Tradução de Paulo Geiger. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2017, p. 20-21.
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