“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

«Apocalipse 13», de Marvin Moore

domingo, 15 de março de 2015

PDF disponível gratuitamente AQUI.

Casa Publicadora Brasileira (CPB) está de parabéns pela publicação desse esplêndido e intrigante livro. O autor, Marvin Moore, também é editor da revista Signs of the Times. Apesar de ter um cunho religioso, o livro apresenta vários fatos históricos sobre os Estados Unidos e o Vaticano, dentre outros. Os capítulos são agrupados em três grandes partes:

1. A Besta do Mar
2. A Besta da terra 
3. A Marca da Besta

No Prólogo é apresentado o cenário profético adventista. Ele mostra que a Igreja Adventista do Sétimo Dia, ao longo dos 150 anos de sua História, foi acusada de sustentar uma interpretação tola e extravagante com relação às profecias sobre o tempo do fim. Mas, como deixa claro, os desdobramentos dos fatos históricos têm confirmado cada detalhe da compreensão profética adventista.

Marvin Moore concentra-se em analisar os Estados Unidos da América e o Vaticano como peças centrais para o tempo do fim. Os Estados Unidos são a besta que emerge da terra, e imporá de forma totalitária as suas interpretações errôneas sobre o 4º dos Dez Mandamentos. Mas, eis que se levanta um problema: como um Estado laico e democrático agiria de forma tão tirânica? Parafraseando o título original da obra, could it really happen? ("isso realmente poderá acontecer?"). Para responder a este questionamento, Moore resgata o passado da América do Norte, lembrando que os puritanos, fundadores das Treze Colônias, desejavam criar uma nação “Pura”. Embora tenham fugido da Europa em busca de liberdade religiosa, os "Pais Peregrinos", arquitetos daquela que se tornaria a mais sólida democracia do mundo, não pretendiam estender essa liberdade aos que não comungassem das suas convicções. Assim, um viajante chamado Burnaby, foi duramente chicoteado por ter beijado em público a sua esposa num dia de domingo, que os puritanos interpretavam como o sábado do 4º mandamento.

Mas, um dos lados mais sombrios do conceito puritano sobre a relação Igreja-Estado ocorreu em Salém, Massachusetts, em 1692 [atenção: no livro a data está errada!]. Dezenove pessoas, acusadas supostamente de envolvimento em atividades satânicas, foram julgadas e executadas, num contexto de histeria por parte da comunidade puritana. 

O impacto desse julgamento foi tão profundo que ajudou a acabar com a influência da fé puritana sobre o governo da Nova Inglaterra. A ideia de que o Estado deveria apoiar a religião, contudo, ainda era influente na Nova Inglaterra no século XVIII. Em 1840, contudo, os estados da já independente nação estadunidense haviam abandonado o apoio à religião. Desde então, prevalece o conceito de separação entre Igreja e Estado, defendido desde os tempos coloniais por Roger Williams (1603-1683).

Apesar disso, o conceito puritano sempre teve o apoio de uma minoria. Atualmente essa minoria está rapidamente ganhando influência no governo e instituições norte-americanos. Embora poucos queiram resgatar a teocracia puritana, uma crescente minoria "deseja mudar o histórico governo laico com sua separação entre Igreja e Estado, que têm caracterizado em grande parte os Estados Unidos desde 1776" (p. 110). Moore explica como este processo está se completando - os boicotes econômicos, as leis dominicais, a perseguição religiosa e os decretos de morte já não são tão improváveis. 

Resta falar do Vaticano, interpretado pelos adventistas como a besta do mar. Moore expõe um resumo da sua História e teoria política, relacionando as profecias do Apocalipse com as do livro de Daniel. A "ferida mortal" que o papado recebeu em 1798 se deu num contexto de renovação do conhecimento, o que levou o Ocidente a questionar até mesmo as autoridades estabelecidas. Alguns desses "questionadores" foram os iluministas Voltaire (1694-1778), Thomas Jefferson (1743-1826) e Benjamin Franklin (1706-1790). Estes dois últimos também estiveram entre os "Pais Fundadores" dos Estados Unidos da América. 

Após essa parte, o autor apresenta a cura da ferida mortal e a situação do papado atual. Após a queda da ateia União Soviética, no início dos anos 1990, os Estados Unidos tornaram-se a única superpotência mundial, e o papado adquiriu grande influência (veja, por exemplo, a participação de João Paulo II na queda do comunismo). De forma estarrecedora, o mundo protestante - e em especial os norte-americanos - têm se achegado a Roma. Quando Moore publicou o seu livro, o carismático papa Francisco ainda não havia sido eleito. Ora, recentemente foi anunciado que o primeiro papa jesuíta e latino-americano da História também será o primeiro a discursar no Congresso americano. Pior: luteranos e católicos comemorarão juntos os quinhentos anos da Reforma, em 2017!

Apocalipse 13 deve ser leitura obrigatória para todos os adventistas. Os apaixonados pela História e interessados nas profecias de modo geral também apreciarão o seu texto fluído e consistente. A sua fé no livro do Apocalipse sairá fortalecida após a leitura desse livro.

MOORE, Marvin. Apocalipse 13. 1ª ed. São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2013. 

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Escrevi esta resenha em parceria com o Diego Ferreira Sátiro, aluno do 2º ano do Ensino Médio do Colégio Adventista de Vitória. A ele, os meus agradecimentos e reconhecimento.

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