“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

«Os Grandes Problemas da História Bizantina»

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Representação da corte de do imperador Justiniano (527-565), um dos mais poderosos da história bizantina. Clique na imagem.


Os Grandes Problemas da História Bizantina, publicado pela Editora das Américas em 1961, foi escrito por Charles Michel Diehl (1859-1944), um dos maiores bizantinistas do século passado. Suas pesquisas deram grande contribuição ao avanço dos estudos relativos à história bizantina.

O livro em questão é uma excelente introdução à história do Império Romano do Oriente, e pode ser adquirido a um preço módico no site Estante Virtual.

Apoiando-se em suas vasta erudição, Diehl tratou de alguns dos principais problemas enfrentados pelos bizantinos:

* a questão das nacionalidades: a população do império não era homogênea. Assim, "no império bizantino a ortodoxia tomava o lugar da nacionalidade" (p. 78);

* o problema político: assim como no Império Romano, não existia em Bizâncio leis de sucessão, o que deu azo a diversos golpes de Estado;

* o problema religioso: a ingerência do imperador em matéria de religião era quase absoluta;

* o problema militar: a concessão de "feudos militares" em troca da prestação de serviços militares e a contratação de mercenários;

* o problema administrativo: basicamente o reforço da burocracia e os problemas financeiros;

* o problema social: a constante diminuição do número de homens livres, ao passo em que aumentavam as usurpações feudais. Embora o "feudalismo oriental" nunca tenha sido idêntico ao ocidental (o "feudalismo clássico"), "até o fim da história bizantina, a existência no oriente desse poderio aristocrático foi causa perpétua de lutas sociais e de perturbações" (p. 137);

* o problema econômico: os latifundiários não cessaram de se apoderar de terras pertencentes aos camponeses livres. Por outro lado, o Império Bizantino não era essencialmente agrícola, uma vez que em suas províncias a "vida urbana floresceu e progrediu" (p. 145). Todas as manufaturas estavam agrupadas em corporações "impenetráveis", e tudo era detalhadamente regulamentado e vigiado pelo Estado, de modo que Constantinopla era "o paraíso do monopólio, do privilégio e do protecionismo" (p. 146). Simplesmente não existia concorrência ou livre iniciativa. Contudo, apesar disso, "a indústria bizantina era florescente na Constantinopla do século X, e o era igualmente em Tessalonica, no século XII (...)" (p. 147);

* os problemas da política exterior: a insistente tendência da diplomacia imperial em subornar invasores, o que muitas vezes estimulava invasões, ao invés de afastá-las. Contudo, "pela propaganda religiosa e a conversão ao cristianismo, a diplomacia imperial devia conseguir alguns de seus mais belos êxitos" (p. 161). Outra questão delicada dizia respeito a soberanos do Ocidente que "ousaram" ostentar o título de imperador (Carlos Magno e seus sucessores; Oto I, que se fez coroar imperador no séc. X, gerando uma tensão ainda mais grave com Constantinopla).

Além de tratar de todos esses problemas, Diehl apresenta os grandes períodos da história bizantina, explica a fundação de Constantinopla e as suas características, apresenta um quadro geral das letras e das artes em Bizâncio, e dá diversas sugestões de pesquisas. Enfim, um livro indispensável para a compreensão de uma das mais fascinantes civilizações da história.

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