domingo, 26 de junho de 2016
Hererós sobreviventes do massacre do primeiro genocídio do séc. XX.
Visite: Combat Genocide Association
Nota: Na semana passada os alunos do 2º ano do Ensino Médio assistiram ao segundo episódio do documentário Racismo - Uma História. Após um debate, preparam relatórios e a síntese dos mesmos consta abaixo.
Contribuíram com o envio de relatórios os alunos Abraão, Ana Beatriz, André, Anna Victoria, Bruna, Cibele, Emily, Juliane, Kamilla, Kelvin, Maria Midyan, Rodrigo Couto, Rodrigo Muqui, Thalyta e Vitória.
***
Na Inglaterra do séc. XIX, as ideias abolicionistas e a luta contra a escravidão surgiram nas igrejas e foram e disseminadas graças a uma aliança de abolicionistas cristãos e missionários. Acreditava-se que existia uma hierarquia social baseada nas diferenças étnicas: os brancos seriam superiores e, como tais, fadados a civilizar os negros e mestiços do mundo. Esses líderes religiosos criam no mito do fardo do homem branco, que declarava que tinham a função de cristianizar e transmitir valores e modos de comportamento civilizados aos negros e mestiços. Estes, num futuro, poderiam ser elevados ao mesmo nível dos britânicos. Foi assim que a prática imperialista inglesa foi camuflada e justificada: como se tratasse de um ato de caráter humanitário e civilizador. Populações nativas (como a da Tasmânia) pagariam um alto preço com a aplicação do projeto "civilizador" britânico.
Clique na imagem e conheça os dados do genocídio cometido pelos ingleses contra os aborígenes da Tasmânia.
As plantações de açúcar das colônias britânicas eram mantidas graças ao trabalho escravo. Porém, com a vitória dos ideais abolicionistas, os grandes proprietários de terra foram privados do árduo trabalho dos negros, e passaram a contabilizar grandes prejuízos; suas propriedades entraram em declínio. Para tentar explicar tamanho fracasso, culpavam os abolicionistas. Alegavam que, na hierarquia racial, por serem selvagens e inferiores, os negros não poderiam ser civilizados e que sua única função era trabalhar para os europeus.
Com o tempo, ficou claro que estavam falhando as tentativas de promover a "civilização". Muitos dos “selvagens” se recusavam a aceitar o cristianismo e a aderir aos costumes europeus; não estavam dispostos a abandonar sua cultura, religião e tradições. Partindo do pressuposto de que os negros não poderiam ser civilizados, o escritor e historiador Thomas Carlyle publicou o ensaio Occasional Discourse on the Negro Question (1849). O "papa do novo racismo" defendeu a necessidade da desigualdade, a maneira mais adequada para distinguir e determinar o caráter, a posição e a função social de cada indivíduo. Em outras palavras, Carlyle defendia a ideia de que a desigualdade baseada nas diferenças étnicas era o fator que determinaria o dominante e o dominado, o mais forte e o mais fraco, o superior e o inferior.
Os ideais defendidos por Carlyle se disseminaram com rapidez por todo continente europeu e foram utilizados pelo governador-geral Edward Eyre para justificar, em 1865, o massacre contra os habitantes de Morant Bay, um pequeno povoado situado no leste da Jamaica. Quando as autoridades britânicas receberam as notícias do massacre, Eyre foi julgado por homicídio em massa. Infelizmente, devido ao enfraquecimento dos ideais abolicionistas e ao fortalecimento das ideias de desigualdade racial, acabou absolvido.
O massacre de Morant Bay desencadeou vários estudos para provar cientificamente a superioridade dos brancos em relação às outras etnias. Pesquisas baseadas em análise de cadáveres e esqueletos de várias raças buscavam provar algo que distinguisse e diferenciasse os brancos das demais raças. Nos Estados Unidos, o craniologista Samuel George Morton reuniu vários crânios e os comparou. Os crânios foram escolhidos porque armazenam e abrigam a parte mais importante do corpo humano: o cérebro. Para Samuel e sua equipe, quanto maior fosse o crânio, maior seria o cérebro, e esse seria o critério para determinar a superioridade de uma raça. Os craniologistas concluíram que os crânios dos tasmanianos, africanos e ameríndios eram tão distintos dos crânios dos caucasianos que poderiam até se tratar de espécies diferentes.
A teoria que teve maior impacto sobre os debates sobre as diferenças raciais foi a de Charles Darwin. Através da análise de sua obra A Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural, muitos passaram a defender que a teoria da evolução também poderia ser aplicada às sociedades humanas. Sua premissa era a seguinte: se a evolução mudara as raças e as espécies do mundo, por que não teria feito o mesmo com os seres humanos?
As ideias difundidas pelo darwinismo social diziam que as sociedades evoluem naturalmente de um estágio inferior para os estágios superiores e mais complexos da organização social. Assim, os europeus se arrogaram como mais evoluídos e passaram a defender a ideia de que tinham o direito de ocupar uma posição superior em relação aos outros e que poderiam dominar e explorar as culturas mais atrasadas e menos desenvolvidas. Desta forma, levariam aos “inferiores” a evolução tecnológica e científica com o objetivo de civilizá-los.
Não parou por aí. Francis Galton, um primo de Darwin, ficou aterrorizado pois os "inferiores" estavam se reproduzindo mais rapidamente do que as classes médias. A lei darwinista parecia estar se invertendo: os menos aptos estavam sobrevivendo. Assim, dedicou boa parte do resto de sua vida a reverter essa situação. Galton criou mesmo uma nova "ciência", especializada na de reprodução humana seletiva, a chamada Eugenia. Nas últimas décadas do século XIX ela se tornou muito respeitada, atraindo defensores conceituados.
O darwinismo social previu destinos muito distintos para as várias raças de seres humanos. A evolução estava em curso: dentre os bem-sucedidos estavam os norte-europeus e os britânicos. Os perdedores eram então os povos que não poderiam competir. Esse pensamento racista permitiu ao vice-rei da Índia (1876-1880), Conde de Lytton, celebrar tranquilamente um dos maiores banquetes da história (uma homenagem à rainha Vitória), enquanto milhões morriam lentamente de inanição no interior do país. Sua política foi terrivelmente desumana e calcula-se que 30 milhões morreram sob o domínio britânico na Índia.
A aniquilação dos aborígenes tasmanianos, as 30 milhões de vítimas do imperialismo britânico na Índia, os horrores do campo da morte da ilha de Shark (para onde os alemães enviaram os hererós e os namaquas, no primeiro genocídio do séc. XX) foram esquecidos com o tempo. O apagar dessas memórias fortalece o mito de que a violência nazista foi uma aberração na história europeia. Na verdade o Holocausto foi apenas um episódio da tenebrosa história de genocídios perpetrados pelos europeus "superiores".
0 comentários:
Enviar um comentário