“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Robespierre e a Queda da Bastilha

sexta-feira, 7 de julho de 2017

La prise de la Bastille (1789), de Jean-Pierre Houël (1735-1813).

Em carta a Buissart, Robespierre fez menção ao exército patriótico de 300 mil homens que apareceu de forma surpreendente nas ruas de Paris. Ele incluía todas as classes de cidadãos, integrantes das guardas Francesa e Suíça, além de outros soldados. Robespierre maravilhou-se então quando, repentinamente, no dia 14 de julho de 1789, esse exército do povo tomou a Bastilha, a principal fortaleza na muralha alfandegária que cercava a capital francesa. A Bastilha era um símbolo de opressão antes da Revolução e "um trunfo iconoclasta" desde que caiu. Durante o Antigo Regime, os prisioneiros da Bastilha haviam sido privados da liberdade, em sua maioria, por lettres de cachet e encarcerados indefinidamente na imponente fortaleza com oito torres arredondadas e paredes com um metro e meio de espessura. 

No dia em que foi conquistada, existiam apenas sete prisioneiros na Bastilha. O prisioneiro mais famoso da Bastilha foi o marquês de Sade, que havia sido transferido no dia 5 de julho para outra prisão, após transformar seu urinol em um megafone para fazer discursos incendiários e sensacionalistas para os transeuntes: segundo ele, um massacre dentro da prisão era iminente; o diretor, Launay, estava matando os presos; o povo precisava derrubar as paredes antes que fosse demasiado tarde. Apesar desse incentivo, antes de atacar a Bastilha o povo investiu contra as barreiras de pedágios, a abadia de Saint-Lazare (estoque de armas de fogo) e o Invalides, por seu canhão e outras armas. 

A tomada da Bastilha começou no início da manhã e terminou no começo da noite do dia 14 de julho. Envolveu apenas cerca de 900 cidadãos, contra os guardas regulares da Bastilhas e alguns reforços do regimento suíço Salis-Samade. Robespierre apoiou explicitamente a violência da multidão contra o diretor Launay, Flesselles (o magistrado-mor da cidade) e Joseph François Foulon, um dos ministros escolhidos para substituir Necker. 

Após a queda da Bastilha, François Palloy, um dos 900 homens que fizeram o primeiro ataque à fortaleza, juntamente com outros quatro especialistas, foram colocados à frente da demolição. Em pouco tempo, o chão estava coberto de detritos que acabaram reciclados como souvernirs da Bastilha. Tinteiros, pesos de papel, adagas comemorativas e modelos decorativos da prisão esculpidos em suas próprias pedras tornaram-se populares e lucrativos nos anos subsequentes. Espectadores foram ao local e se espantaram com as correntes e algemas. Eles tocavam em instrumentos de tortura e se trancavam em celas úmidas nas quais seus compatriotas, importunados por ratos, apodreceram até a morte. Robespierre estava acima de tudo isso. Ele não se interessava muito nem por dinheiro e nem por sexo, até onde se sabe. Não possuía uma mente comercial e não conhecia emoções fortes. Não tinha, como Mirabeau, lembranças pessoais de encarceramento para esquecer, nem medos - não importa quão remotos - da ameaça que a Bastilha podia representar. Para ele, a fortaleza conquistada era meramente um enorme monólito sobre o qual podia projetar suas ideias.     

Adaptado de SCURR, Ruth. Pureza fatal - Robespierre e a Revolução Francesa. Tradução de Marcelo Schild. Rio de Janeiro / São Paulo: Record, 2009, p. 110-117.

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