domingo, 21 de junho de 2020
Catacumba de Priscila, Via Salária, Roma.
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Wiseman explica que evita usar a palavra catacumba para que o leitor não seja levado a entender ser esse o nome genérico dado às primeiras criptas cristãs. Roma estava rodeada por cerca de sessenta cemitérios, designados pelo nome de um ou mais santos, cujos corpos dormiam debaixo das suas abóbodas. Havia o de S. Nereu e Aquileu, de Santa Inês e S. Pancrácio, de Pretextato, de Priscila, etc. Aplicada, pois, inicialmente a um único cemitério, a designação catacumbas generalizou-se, passando, mais tarde, a aplicar-se a todo o sistema de escavações subterrâneas.
A origem das catacumbas foi, no século passado, assunto de intensos debates. Atualmente, há consenso de que tais moradas dos mortos foram construídas justamente com esse fim, e não foram reaproveitadas de escavações para a extração de materiais de construção. Durante as perseguições anticristãs, como a de 303 a 313, as catacumbas serviam também de esconderijo e lugar de culto.
As catacumbas dividem-se em três partes: corredores ou ruas, aposentos ou salas e igrejas. As passagens eram galerias compridas e estreitas que serviam não apenas para dar acesso às outras partes das catacumbas. Não, estavam ali os cemitérios, elas eram a catacumba propriamente dita. As suas paredes, tanto como as das escadas, eram perfuradas com cavidades maiores ou menores, proporcionadas aos corpos de adultos ou crianças que ali repousavam. Em certas catacumbas há catorze filas ou andares de túmulos, noutras apenas três ou quatro, mas sempre feitas à medida do corpo que encerravam. É de supor que o cadáver aguardasse no chão que escavassem a sepultura.
Envolvido por uma mortalha, o corpo era depositado no exíguo nicho. A seguir, a abertura era hermeticamente tapada com uma placa de mármore ou com tijolos, cimentados em volta. As inscrições gravavam-se na argamassa, enquanto estava fresca, ou no mármore. Milhares dessas placas de mármore foram transportadas para museus ou igrejas. Os epitáfios gravados na argamassa foram copiados e publicados; contudo, a maior parte dos túmulos é anônima.
Regras tão antigas quanto a própria Cristandade regiam as inumações. A primeira era a forma como Cristo foi enterrado: envolto numa mortalha, embalsamado com aromas e depositado na cavidade de uma rocha, que tapavam com uma lousa. Ora, até na morte os primeiros cristãos buscavam imitar a Jesus.
O sono do corpo que espera, no túmulo, a hora da ressurreição é o segundo dos princípios que inspiraram a construção dos cemitérios. Todas as expressões referentes a esses lugares de repouso aludem à ressurreição e nunca se encontra nos epitáfios cristãos a palavra enterrar. Dorme em paz e aqui repousa são as palavras empregadas, indicando que os mortos descansam ali temporariamente. O próprio nome de cemitério sugere a ideia de um dormitório onde repousam até soar a trombeta da volta de Cristo. Disto resulta serem os túmulos designados pelas palavras locus, loculus, exígua morada dos que morreram em Cristo. Por tudo isso, os primitivos cristãos encaravam com horror o costume pagão de queimar os cadáveres.
As catacumbas dão-nos inúmeras provas da sua antiguidade. O estilo das pinturas decorativas e os símbolos são de época remota. Conquanto as inscrições com data sejam raras, ainda se podem encontrar cerca de trezentas entre as dez mil da coleção de Rossi. As datas vão dos primeiros imperadores até cerca de 350 d.C.
Mesmo depois de a Igreja ter conquistado a paz, os cristãos desejavam ser enterrados junto dos mártires e, geralmente, contentavam-se em ser sepultados debaixo do pavimento das galerias. Disto resulta que, nos escombros das catacumbas e muitas vezes ainda no seu primitivo lugar, encontram-se pedras tumulares com datas do século IV. Contudo, para o fim desse século, tais monumentos tornam-se mais raros. O papa Dâmaso, no seu próprio epitáfio, confessa escrúpulo em ambicionar a companhia dos santos, pedindo para ser sepultado junto deles.
Adaptado de CARDEAL WISEMAN. Fabíola ou A Igreja das Catacumbas. Tradução de Leyguarda Ferreira. Lisboa: João Romano Torres, 1969, p. 145-150.
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