segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021
Na primavera de 1941, Stalin escreveu uma carta pessoal a Hitler, que permanece inédita, pedindo garantia de que a escalada de tropas alemãs no leste não tinha intenção hostil; Hitler respondeu que elas estavam de prontidão para uma invasão da Grã-Bretanha. Mas, junto a essa interpretação plausível das intenções alemãs, havia uma esmagadora quantidade de todos os tipos de indícios de que a Alemanha preparava um ataque em massa. Os planos alemães foram encobertos por um complexo disfarce, mas o movimento gradual de 3 milhões de homens e equipamentos para suas eventuais posições de batalha não podia ser permanentemente oculto. Havia ampla informação, parte dela de simpatizantes comunistas no lado alemão da linha que passavam para o território soviético com suas notícias, indicando as intenções alemãs. Pelo menos 84 avisos chegaram a Moscou, mas eram encarados por ordem de Stalin como provocação deliberada ou desinformação, espalhadas pelos britânicos para tentar envolver a União Soviética na guerra. Numa reunião da seção de guerra do Comitê Central em 21 de maio, a informação foi recebida com tanto nervosismo que os membros esqueceram o costumeiro aplauso quando se mencionou o nome de Stalin. Mas todos os esforços dos que o cercavam para fazê-lo levar a informação a sério foram implacavelmente rejeitados. Quando o general Proskurov, chefe da inteligência soviética, discutiu pessoalmente com Stalin, foi preso e fuzilado.
A convicção de Stalin solidificou-se em obsessão. Segundo algumas versões, ele tinha um profundo medo de mobilizar-se para enfrentar a ameaça alemã porque a mobilização tzarista em julho de 1914 provocara a crise que levara à Primeira Guerra Mundial. (...)
A decisão de Stalin era uma afirmação tão pública de sua ditadura quanto fora a de Hitler dois anos antes [em setembro de 1939, ao invadir a Polônia]. As duas eram sobre questões da mais alta importância e foram tomadas em desafio aos fatos, contra dúvidas expressas por destacadas figuras militares e civis e apesar, ou talvez por causa, de irritantes dúvidas. As consequências foram graves, mas em nenhum dos casos a ditadura foi enfraquecida pela prova pública de voluntarioso erro de cálculo.
- Stalin - observou Molotov depois - ainda era insubstituível.
Hitler ficou privadamente abalado. "Via-se claramente como ele ficou chocado", escreveu uma testemunha. Ficou furioso com o que via como estupidez e arrogância ocidentais. Seu entourage demonstrava "perplexa consternação". A reação de Stalin foi de fúria, com a duplicidade de Hitler, mas também consigo mesmo.
- Lênin fundou nosso Estado - murmurou depois de deixar um resumo das derrotas soviéticas uma semana depois da invasão - , e nós o fodemos.
Bibliografia consultada: OVERY, Richard. Os Ditadores - a Rússia de Stalin e a Alemanha de Hitler. Tradução de Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009, p. 111-113.
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