“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Robert Mugabe, o sortudo

domingo, 16 de abril de 2023

 

Era janeiro de 2000 em Harare, no Zimbábue. O mestre de cerimônias Fallot Chawawa estava encarregado de sortear o bilhete vencedor da loteria nacional organizada por um banco parcialmente estatal, o Zimbank. A loteria estava aberta a todos os clientes que tivessem mantido 5 mil dólares de Zimbábue ou mais nas contas durante o mês de dezembro de 1999. Quando sorteou o bilhete, Chawawa ficou perplexo. Ele mal pôde acreditar no que via quando recebeu o bilhete sorteado com o prêmio de 100 mil dólares de Zimbábue e viu escrito o nome de Sua Excelência R G Mugabe.

O presidente Robert Mugabe, que governava o Zimbábue desde 1980 usando todos os métodos possíveis, geralmente com mãos de ferro, ganhara um prêmio mais ou menos cinco vezes a renda per capita anual do país. O Zimbank afirmou que o nome do ditador foi sorteado dentre milhares de apostadores aptos para concorrer ao prêmio. Que homem sortudo! E olha que ele nem precisava do dinheiro: algum tempo antes do sorteio, Mugabe concedera aumentos salariais de até 200% a si mesmo e a seu gabinete.

"Sabemos que nos mentem. Eles sabem que mentem. Eles sabem que sabemos que nos mentem. Sabemos que eles sabem que sabemos que nos mentem. E, ainda assim, seguem mentindo." Alexandr Soljenítsin (1918-2008)

O bilhete de loteria era apenas mais um indício das instituições extrativistas do Zimbábue. Isso poderia ser taxado simplesmente de corrupção, mas é apenas mais um sintoma da doença institucional do país. O fato de Mugabe poder ganhar na loteria, se quisesse, mostrava o tamanho de seu controle sobre a vida da nação africana e deu ao mundo uma noção da dimensão de suas instituições extrativistas.

Bibliografia consultada: ACEMOGLU, Daron & ROBINSON, James A. Por que as nações fracassam - as origens do poder, da prosperidade e da pobreza. Tradução de Rogerio W. Galindo e Rosiane C. de Freitas. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2022, p. 411-412.

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