sexta-feira, 28 de abril de 2023
O Livro Nove de A República apresenta uma crítica da tirania e da vida tirânica que, sob muitos aspectos, continuou sendo padrão até o presente, com as variações de Salústio, Erasmo e muitos outros. A alma transtornada do tirano flui diretamente da licenciosidade da própria democracia. Ele começa como um demagogo populista que toma a dianteira ao se deixar levar pelos piores excessos do hedonismo democrático e agita o ressentimento da massa contra aqueles que são melhores. Tornando-se tirano, como diz Sócrates, sua paixão erótica inflada atua como um demagogo dentro de sua própria personalidade, concentrando todas as suas energias na busca egoísta de prazer e glória. Como governa através do medo e da força nunca pode confiar nos que estão à sua volta e está continuamente em guarda contra conspirações - melancólico, desconfiado e propenso a espasmos de crueldade. A única cura efetiva para tal apetite tirânico é refrear essas paixões desregradas, o que só pode ser feito se a mente governa as paixões e redireciona suas energias para a justiça e a virtude cívica. A própria filosofia deve mostrar o caminho. Se o mundo é caótico, nossas paixões e nosso comportamento também serão. Se o mundo é razoável, há uma chance de que nossas paixões também possam ser recrutadas para servir à razão.
NEWELL, Waller R. Tiranos - Uma História de Poder, Injustiça e Terror. Tradução de Mário Molina. São Paulo: Cultrix, 2019, p. 69-70.
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