domingo, 28 de maio de 2023
Muitos líderes da revolução seguiram o que viram como apelo de Rousseau para uma nova mitologia, uma nova religião civil, para substituir tanto as superstições do cristianismo tradicional quanto o árido racionalismo do Iluminismo. No auge do seu poder, Robespierre montou um espetáculo particularmente extravagante. Os deputados da Assembleia Nacional eram "cercados por grupos de meninos com grinaldas de violetas nas cabeças, por rapazes com coroas de murta, por homens mais velhos usando folhas de carvalho, hera e oliveira... Uma orquestra começava a tocar; os vários grupos começavam a cantar; os rapazes sacavam espadas e juravam aos mais velhos defender a pátria...".
Essas cenas fortemente contrastantes - donzelas de branco carregando feixes de trigo alternando com turbas urrando diante de uma guilhotina encharcada de sangue - ilustram a patologia do jacobinismo e de todas as revoluções milenaristas subsequentes. As pessoas devem ser subjugadas e esmagadas, todas as suas tradições e vínculos habituais destruídos, para serem reconstruídos num coletivo mais puro, mais harmonioso. Selvageria e sadismo correm em contraponto a explosões de emoção e afeto, já que os defeitos das pessoas são purgados pelo terror para permitir que sua subjacente bondade natural venha à tona.
NEWELL, Waller R. Tiranos - Uma História de Poder, Injustiça e Terror. Tradução de Mário Molina. São Paulo: Cultrix, 2019, p. 171.
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