domingo, 7 de maio de 2023
Fora de questão está o firme desdobramento da posição do imperador da charada de ser meramente "primeiro cidadão" para o franco despotismo de punhos à mostra. Enquanto o exército não estava autorizado a entrar em Roma durante a República porque a ameaça de força militar era considerada uma afronta a uma cidadania livre, os imperadores estavam sempre acompanhados por guarda-costas armados, como os tiranos da antiga Grécia e do Oriente Médio, incluindo (para os júlio-claudianos) um grupo de alemães gigantescos para quem o imperador era seu chefe guerreiro tribal. Esses guarda-costas se expandiram para uma força de 5 mil, a Guarda Pretoriana, permanentemente estacionada perto da cidade para cumprir o poder autocrático do imperador (quando não estavam subornados para derrubá-lo em favor de um novo senhor). Gradualmente, mesmo os patrícios perderam a proteção da lei contra a decisão do imperador, às vezes por capricho, de mandá-los matar. Segundo Cássio Dio, quando Tibério acionou seu cruel e ambicioso prefeito pretoriano Sejano e ordenou-lhe que executasse seus filhos, os soldados tiveram primeiro de estuprar sua filha Junila, porque não havia precedente para a punição capital de uma virgem. Mais tarde, mesmo esse tipo de repugnante simulacro de legalidade foi abandonado. Como mencionei na Introdução, quando um arquiteto ilustre criticou o projeto de um templo esboçado por Adriano, o novo imperador ordenou que o executassem. O desrespeito pela "grandeza" (majestas) do imperador tornou-se um delito capital e ser denunciado por isso era com frequência equivalente a ser considerado culpado. O fingimento original de Augusto ao não reivindicar ser divino também se dissolveu lentamente sob seus sucessores - o imperador Domiciano era abertamente tratado de "Senhor e Deus do Mundo".
NEWELL, Waller R. Tiranos - Uma História de Poder, Injustiça e Terror. Tradução de Mário Molina. São Paulo: Cultrix, 2019, p. 89-90.
0 comentários:
Enviar um comentário