domingo, 21 de maio de 2023
O cristianismo, ao contrário [da civilização greco-romana, rigorosa e aristocrática em sua totalidade], era em seu cerne uma religião verdadeiramente igualitária. Todos os homens eram iguais aos olhos de Deus, igualmente vulneráveis ao pecado, igualmente capazes de salvação. Embora isso não levasse necessariamente a qualquer ataque direto à hierarquia estabelecida de riqueza e posição romanas - dilatada pela hierarquia eclesiástica mais recente de bispos com seus palácios e catedrais - levou a uma mudança no tom moral da sociedade, a uma desaprovação, por exemplo, da violência gratuita dos jogos de gladiadores, ao encorajamento para que os proprietários de escravos os libertassem e não comprassem outros; e a longo prazo essa mudança no tom moral contribuiria para uma luta no aqui e agora, para tornar os homens iguais na terra assim como no céu. O contraste é talvez melhor sintetizado pela ênfase clássica no orgulho como a mais elevada virtude humana, o coroamento da excelência marcial, moral e cívica como oposta à ênfase cristã na humildade. Para Aristóteles, enquanto o orgulho pelas realizações que alguém alcançava era a mais alta virtude na vida cívica (o que não deve ser confundido com a mera e vaidosa atitude de se vangloriar de honras não verdadeiramente merecidas), a humildade era de fato uma fraqueza, porque só alguém "com uma alma pequena" (expressão grega traduzida maravilhosamente no inglês médio como "pusilânime") hesitaria em reivindicar uma honra para a qual sua virtude ou posição o autorizasse. Para Agostinho, ao contrário, todo orgulho, merecido ou não, era redutível a vaidade porque estava baseado na tolice de que um homem pode realizar alguma coisa boa por conta própria, sem Deus.
NEWELL, Waller R. Tiranos - Uma História de Poder, Injustiça e Terror. Tradução de Mário Molina. São Paulo: Cultrix, 2019, p. 97.
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