quarta-feira, 31 de maio de 2023
Nos dias de festa, conta Nicolau de Clemanges, pouca gente ia à missa. Não se mantinham lá até ao fim e contentavam-se com aspergir-se de água benta, ajoelhar diante de Nossa Senhora ou beijar a imagem de certo santo. Se ficavam até ao erguer da hóstia gabavam-se do fato como se tivessem prestado um favor a Cristo. Nas matinas e vésperas o padre e o ajudante eram as únicas pessoas presentes. O cavaleiro da aldeia faz o padre esperar que ele a mulher se levantem e se vistam para começar a dizer missa. As festividades mais sagradas, mesmo a noite de Natal, segundo Gerson, são passadas no deboche, jogando as cartas, jurando e blasfemando. Quando são repreendidas, as pessoas apontam o exemplo da nobreza e do clero, que se comportam da mesma maneira com impunidade. "Também nas vigílias", diz Clemanges, "se entoam canções lascivas, e danças, mesmo na igreja; os padres dão o exemplo jogando os dados e observando".
HUIZINGA, Johan. O Declínio da Idade Média. 2ª edição. Tradução de Augusto Abelaira. Lousã, Coimbra: Ulisseia, s/d, p. 167.
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