quarta-feira, 21 de junho de 2023
A Sociedade Civil é um grupo de instituições e associações suficientemente fortes para impedir a tirania, nas quais, entretanto, se entra e das quais se sai livremente, e não por imposição do nascimento ou de um ritual impressionante. Pode-se, por exemplo, aderir ao Partido Trabalhista sem ter que matar uma ovelha - na verdade, dificilmente seria permitido que se fizesse isso - e sair sem correr o risco de ser condenado à morte por apostasia. Quando os partidos políticos modernos se estabeleceram no recém-independente Marrocos em 1956, as tribos das montanhas aderiram a eles no velho estilo, como estavam habituadas a fazer nos movimentos religiosos: fizeram-no como coletividades, com um juramento e um sacrifício. Um clã, não um indivíduo, se filiaria ao Partido Socialista, e um touro pereceria nesse processo. Era a curiosa confluência de dois códigos sociais distintos. A comunidade carismática que penaliza a apostasia com a morte é uma outra questão, e não pode conviver facilmente com a Sociedade Civil. A verdadeira Umma foi e é completamente diferente em suas instituições morais, como o público ocidental ficou sabendo, para seu horror, através do caso Rushdie.
GELLNER, Ernest. Condições da Liberdade - a sociedade civil e seus rivais. Tradução de Lucy Magalhães. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1996, p. 93.
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