quinta-feira, 8 de junho de 2023
O homem moderno é livre de procurar individualmente, quando lhe apraz, as suas distrações favoritas; nos livros, na música, na arte ou na natureza. Por outro lado, nos tempos em que os prazeres de caráter elevado não eram acessíveis nem muitos, o povo sentia a necessidade destes divertimentos coletivos que são as festas. Quanto mais opressora é a miséria da vida cotidiana mais fortes têm de ser os estímulos necessários a produzir essa intoxicação feita de arte e alegria, e sem que a vida se tornaria insuportável. O século XV, profundamente pessimista, inclinado à depressão, não podia dispensar estas afirmações enfáticas da vida tal como lhe eram dadas nas esplêndidas e solenes festas coletivas. Os livros eram custosíssimos, o campo cheio de perigos, a arte rara; o indivíduo dispunha de escassos meios de distração. Todos os divertimentos literários, musicais e artísticos estavam mais ou menos ligados aos festivais.
HUIZINGA, Johan. O Declínio da Idade Média. 2ª edição. Tradução de Augusto Abelaira. Lousã, Coimbra: Ulisseia, s/d, p. 259.
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