“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

#15Fatos O Poder Imperial em Roma

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

1. A partir de Augusto, o Estado passou a ser o imperador: o estilo monárquico substituiu a incitação ao senso cívico de todos pela exaltação das virtudes pessoais do príncipe. Ao invés de obedecer por devoção ao Estado, os súditos passaram a confiar na providência do soberano. 

2. O estilo monárquico atribuía as próprias instituições públicas e até mesmo as decisões administrativas mais cotidianas à bondade do imperador. Pelo efeito de sua bondade, o princeps garantia, por exemplo, o abastecimento de pão a Roma.

3.  A pessoa real tem um caráter público. Assim, o imperador tinha as relações privadas de um pai ou de um patrão com a plebe de sua capital. Ele exibia um aparato em Roma ou no circo que transformava a cidade eterna em uma corte real.

4. Os romanos gostavam de seu soberano, ainda que achassem os impostos muito pesados. O nome do imperador era pronunciado com respeito, e as opiniões políticas não eram manifestadas e a conversa sobre política era simplesmente inexistente. 

5. Um princeps obtinha o reconhecimento máximo de seus súditos quando suprimia uma taxa, quando diminuía momentaneamente um encargo fiscal de uma província ou devolvia ao contribuinte impostos atrasados que devia ao Fisco.   

6. Quando agia como um legislador, o imperador romano se expressava como se falasse com crianças: ele culpava, ameaçava e enquadrava. Nesse sentido, certa vez o imperador Augusto repreendeu por édito os espectadores que, no teatro, o cumprimentaram chamando-o de senhor.

7. Os legistas consideravam o imperador como um mandatário. O povo e os ideólogos, por sua vez, viam nele um "bom rei", ou seja, um pai. 

8. Além de ter o controle da burocracia, o imperador era o senhor exclusivo da política externa e comandava os exércitos. Caso ele inspecionasse uma tropa, vestia-se com trajes militares e assumia pessoalmente o comando. Os exércitos, por sua vez, nomeavam ou permitiam nomear os imperadores.

9. Augusto e seus sucessores foram mecenas de Estado. Nessa condição, em vez de retirar dinheiro dos cofres públicos como se fossem seus próprios cofres, usavam seus próprios recursos para atender as necessidades de Estado.

10. O princeps possuía, para administrar seu império, altos funcionários chamados procuradores. Esses escravos imperiais não constituíam sua domesticidade privada - eram "escravos da coroa", permanecendo em sua função quando o imperador mudava. 

11. A existência individual de todos parecia depender do imperador, bom ou mau, uma vez que se confundia o imperador com o Estado e com a sociedade. Segundo Horácio, graças a Augusto, os bois pastavam com segurança, os campos eram férteis, os navegantes cruzavam mares pacíficos e a castidade do lar não sofria mais com os problemas do adultério. 

12. Apesar disso, o imperador não poderia ser considerado hábil ou inteligente como os deuses. Sua individualidade era exclusivamente ética, suas virtudes eram louvadas, mas seria desrespeitoso falar de suas habilidades políticas.

13. O culto dos reis na Antiguidade greco-romana também era dualista e ambíguo. Os adoradores sabiam que o monarca era um simples mortal, mas tinham excelentes razões para tratá-lo como um deus. 

14. No mundo greco-romano, a adoração pelo soberano era mais frequentemente uma iniciativa das cidades autônomas, e não um decreto do próprio soberano. Assim, o imperador não fazia que o adorassem: apenas permitia que o adorassem. Aqueles que organizaram seu próprio culto foram considerados tiranos. Na Itália romana, os imperadores recusaram, em vida, o culto de seus súditos italianos. O culto do soberano vivo só era autorizado para os provincianos.

15. O culto monárquico nunca correspondeu a uma crença popular, mas a um sentimento popular. Frequentemente, o culto monárquico não passava de um cerimonial. Nesse sentido, as autoridades romanas e o populacho não pediam aos mártires cristãos para acreditar na divindade do imperador. Elas exigiam apenas os sinais externos de respeito.

Bibliografia consultada: VEYNE, Paul. Pão e circo: sociologia histórica de um pluralismo político. Tradução Lineimar Pereira Martins. 1. ed. São Paulo: Editora Unesp, 2015, p. 520-643.

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